foto: jairclopes.blogspot.com
Benilson Toniolo
Numa manhã de um domingo
magistral de outono, sem sequer uma nuvenzinha no céu azulzíssimo, um esplendor
que só o céu de Campos do Jordão é capaz de proporcionar, saímos, Simone e eu,
a catar pinhão.
Paramos nas ruzinhas pouco
movimentadas de Capivari, sacola na mão, a buscar os mais graúdos. Já foi mais
fácil catar pinhão nesta Cidade. Hoje em dia, a concorrência dos que catam a
semente para vender na avenida (aliás, como aumentou o número de vendedores de
pinhão!) faz com que a gente tenha que contar ainda com um bocado de sorte para
pegar uns poucos graúdos. Quer dizer, antigamente a gente concorria com os
serelepes. Hoje, tem também os inúmeros vendedores. Mas, vá lá, tem pinhão pra
todo mundo.
Enquanto exercitava aquele
abaixa e levanta característico da operação, fiquei pensando e concluí que
poucas manifestações sejam talvez mais jordanenses do que sair pra catar
pinhão. Você já parou pra pensar em quantas gerações de famílias alimentaram –e
se alimentam, e se alimentarão- o hábito de sair de casa para, simplesmente,
juntar as sementes que as imponentes araucárias despejam solenemente sobre o
doce solo desta Cidade? Trata-se quase de uma celebração, um momento de
reencontro com a terra, um ato de
humildade em que reconhecemos a superioridade da natureza a noss dar prazer e
nos saciar a fome e o desejo pelo alimento.
O jordanense ama a sua terra,
e tudo o que dela provém. Felizes os que
reconhecem a generosidade do Criador em dotar Campos do Jordão de tudo o que há
de mais belo e harmonioso. Campos do Jordão é um eterno hino de amor, e o
simples ato de sair para catar pinhão pode ser considerado um gesto de respeito
e gratidão por tudo de bom que nela existe.
Não há como não se emocionar
com o contato que temos com a terra, a proximidade do mato, da grama, da
árvore, o cheiro verde e fresco que nos atinge em cheio no peito, na boca, nos
olhos, no nariz, a felicidade de vislumbrar alguns metros adiante um pinhão enorme,
graúdo, apetitoso, que se oferece ao toque de nossos dedos como a mãe que
oferece do próprio corpo o alimento aos seus filhos queridos.
Ainda mais em tempos como o
que vivemos, quando a pressa, a pressão por resultados, o trabalho insano, as
contas a pagar, as desavenças familiares e profissionais, as falsas amizades, a
calúnia, a difamação, a má-fé, o desamor e o desrespeito parecem prevalecer
entre as pessoas e querer destruir a cada dia nossos valores. Num mundo como o
que vivemos hoje, um simples ato de aproximação com a natureza pode ter o condão
de renovar nossas forças para a dureza do cotidiano.
Portanto, aí vai uma dica.
Aproveite o outono para aprender a amar –ou amar de novo- Campos do Jordão. Se
já a ama, ame mais ainda. Preste atenção na sua natureza, nos seus contornos,
nas suas cores e formas. Deixe de olhar para baixo, e olha para cima. E,
sobretudo, saia para catar pinhão numa manhã qualquer, ao lado da pessoa amada,
e deixe que a generosidade das coisas simples e desburocratizadas tome lugar em
seu coração jordanense.
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