terça-feira, 22 de abril de 2014

ESCRITOS DO VINTE E UM DE ABRIL DE DOIS MIL E QUATORZE


Benilson Toniolo


- “Anatomia de Uma Maracutaia” é o titulo de um pequeno texto de Elio Gaspari na Folha de ontem. Antes de começar a leitura, matutei: qual será o assunto? Sim, porque tanto podia tratar-se desde o neo mensalão tucano, até a já quase esquecida versão petista, passando ainda pelas estripulias da OGX, pelas reações do Parlamento Nacional com doleiros no cárcere, a compra da refinaria de Pasadena, os rolos dos paulistas com a Alstom ou as sacanagens que marcam a preparação da Copa do Mundo. Mas me enganei. Elio, na verdade, discorre sobre o dispositivo da medida provisória 627, que aliviam as multas devidas pelos planos de saúde que negam aos clientes o atendimento contratado.
Muito brevemente deveremos ter um ‘dicionário de maracutaias’, onde nos encontraremos todos no afã de tentar entender o que se passa nas entranhas dos três poderes que balizam o funcionamento (ou o não-funcionamento) do Estado brasileiro.
 
- Meu artigo “Em Defesa dos Jornalistas” ainda vai me levar ao Nobel de Literatura. Já tem gente na internet mencionando minha “erudita cultura” ao criticar o que seria minha defesa à censura. Mal sabem que concluí o EM somente depois do curso técnico em Hotelaria, em 2006, e abandonei duas vezes a faculdade de Letras –ambas por falta de fundos para continuar pagando as mensalidades. De tal sorte que, o que sei, aprendi com os livros. Quanto à censura, lanço mão de meus conhecimentos eruditos para citar Zeca Pagodinho: ‘nunca vi, nem ouvi, só ouço falar’. Por mais que tivessem me avisado jamais imaginei que, depois de ser nomeado Secretário Municipal, um artigo meu renderia tanta atenção da parte de quem é contrário ao governo. Pode ser que seja algum equívoco na interpretação do que escrevi. Pode ser que eu não tenha sido claro o suficiente (meu estilo anda muito empolado, ultimamente). Pode ser. Mas, pelo que sinto, acho que é implicância, mesmo.


Há 29 anos era domingo e eu rezava pela recuperação do presidente Tancredo Neves. Os colegas da turma do primeiro colegial do Instituto Escolástica Rosa me botaram o apelido de ‘porta-voz’, porque todos os dias eu achava de atualizar a turma com as últimas notícias dadas pelo rádio sobre a saúde do presidente eleito pelo Congresso. Quando Antonio Britto deu a notícia por volta de 23h, eu já estava deitado, pronto para dormir, e chorei com o rosto escondido sob o lençol. No dia seguinte não houve aula, mas assim mesmo fui à escola –que estava vazia. Ainda assim entrei, subi as escadas, fui à sala de aula, sentei na minha cadeira e chorei sentido, de novo, sozinho, meu choro de catorze anos de idade. Tancredo ter morrido antes de assumir a Presidência era uma grande sacanagem do destino para com meu país. Ouvi gente caminhando no corredor e me recompus. Era o porteiro. ‘Que que tá fazendo aqui, moleque? Hoje não tem aula. Vai embora, vai". Voltei a pé para casa, para acompanhar pela tevê os funerais de Tancredo. Até hoje, o dia 21 de abril para mim se reveste de um sentimento misto de patriotismo, esperança e tristeza. E que, no fundo, é o mesmo sentimento que conservo com relação ao meu país.

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