Benilson Toniolo
Não assisti às imagens do vídeo veiculado pela Folha dos detentos do presídio de Pedrinhas, no Maranhão, mostrando as três cabeças recém decapitadas de outros presos. Não tive coragem . Nem precisava: no dia seguinte, o jornal apresentava em sua primeira página a foto das cabeças separadas dos corpos. Foi terrível, mas não foi inédito. Lembro-me do fato narrado por um amigo envolvido com Literatura aqui no Vale do Paraíba, que é agente penitenciário em Tremembé, e que me narrou um fato semelhante havido recentemente na unidade prisional onde trabalha. Durante a visita de uma juíza ao local, a cabeça de um detento foi atirada na direção da visitante enquanto ela transitava por um dos corredores, na companhia dos responsáveis pela penitenciária.
Na continuidade dos protestos
dos presos de Pedrinhas, ônibus foram incendiados por ordens de facções existentes
dentro do próprio presídio, o que culminou na
morte da menina Ana Clara, de seis anos, queimada viva por não ter
conseguido descer do ônibus antes de os criminosos atearem fogo ao coletivo.
Depois disso, a imprensa
noticiou que o governo do Estado do Maranhão iniciou um processo de licitação para
compra de toneladas de itens alimentícios como camarões, lagostas, uísque escocês
e champagne, para abastecimento das casas da governadora Roseana Sarney. O
custo aproximado da licitação é de cerca de um milhão de reais.
A governadora Roseana veio a
público declarar que a explosão da violência no Estado se deve ao fato de que a
população está menos pobre, o que, segundo seu raciocínio, aumenta a criminalidade,
que por sua vez é um problema nacional. Já a decapitação é fruto do complicado
sistema prisional brasileiro, que requer reforma imediata. Ou seja, ela,
enquanto máxima mandatária do Estado, nada pode fazer, por se tratar de um
problema nacional –de competência, portanto, do Governo Federal –que até o
momento não se manifestou, ao contrário do resto do mundo, incrédulo com
tamanha violência, crueldade e inércia do governo.
O Governo do Estado do
Maranhão recebeu um número incontável de páginas, ao longo dos últimos quatro
anos, como resultado de visitas feitas ao presídio por instituições de Direitos Humanos, alertando para as condições subumanas da unidade de Pedrinhas. Uma reunião
chegou a ser realizada com a Governadora para tratar do assunto, e a resposta
foi que haveria ‘um aporte financeiro substancial que permitiria ao governo
recuperar esta e outras unidades em todo o Estado’. Nada aconteceu, até que as
mortes, que já chegam a 62 desde o ano passado, passassem a ser noticiadas, bem
como o estupro coletivo das companheiras dos detentos que participam das
chamadas ‘visitas íntimas’, que acabaram suprimidas pelo excesso de violência.
Seria um caso clássico de intervenção
federal, não fosse o fato de o PT contar com o apoio decisivo do PMDB –partido de
Roseana- para conseguir a reeleição no pleito de outubro e manter o partido no
governo pelo quarto mandato consecutivo. Intervir no Maranhão agora seria perder o apoio do clã Sarney num momento tão importante para dar andamento ao projeto de eternização do Partido dos Trabalhadores no comando do País. A cada ano que passa, o partido e suas
estruturas corruptas, lascivas e perniciosas vão se enraizando nos subterrâneos
do poder, tornando partido e governo uma coisa só e não distinguindo mais o que
é uma coisa e o que é outra. Não só não aprenderam nada com o Mensalão, como
continuam agindo diante de uma sociedade indiferente e ignorante, incapaz de
reagir com dignidade e já acostumada a mostrar suas entranhas purulentas aos
olhos do mundo.
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Adriano Laurentino de Araújo é servidor público do Senado
e atua no serviço de publicações da Casa. Ganha 17 mil por mês e afastou-se do serviço
por 90 dias para fazer um curso para aprender a navegar na internet e consultar
planilhas.
Denise Dal Molin Izaguirre é servidora pública da gráfica
do Senado, ganha R$ 16,5 mil por mês e
ficou afastada do serviço por 6 meses para fazer um curso de informática.
Joao Batista de Miranda Torres também trabalha no Senado.
Ganha R$ 18 mil mensais e ficou três meses afastado do serviço para fazer dois
cursos, um sobre ‘bullying’ e outro sobre a reforma ortográfica.
Já Márcia Vieira Pacheco ganha R$ 19 mil por mês como
revisora taquigráfica e ficou 58 dias afastada do serviço para fazer um curso
sobre filosofia e existência.
Durante os afastamentos, os salários dos servidores foram
pagos integralmente. Até porque o Senado, que não é a casa da mãe-joana, não paga
os cursos. Pensa que a vida de funcionário do Senado é moleza?
A servidora responsável pela concessão das licenças
chama-se Elga Mara Teixeira Lopes, que atualmente exerce o cargo de
diretoria-executiva do ILB – Instituto Legislativo Brasileiro. Ela chegou a
dirigir a Secretaria de Comunicação do Senado, nomeada pelo senador José
Sarney, e foi demitida em 2009, após ter sido denunciada por trabalhar em
campanhas eleitorais para a família Sarney e para o PT sem pedir afastamento do
cargo.
No mesmo dia de sua demissão, foi nomeada como assessora
especial de Sarney, sendo depois indicada para presidir o ILB.
Quem quiser conferir, basta dar uma olhadinha no caderno ‘Poder”
da Folha de hoje. Se tem mentira nessa história, não é culpa minha.
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São Luís do Maranhão e Brasília: duas capitais a escancarar
as entranhas de um gigante que, depois de junho, voltou a dormir profunda e
silenciosamente.