foto: salute.pourfemme.it
Benilson Toniolo
Foi um dia pesado. Como se não
bastasse o impacto -que ainda permanece- da morte do menino Bernardo, de 11 anos, assassinado pela madrasta no Rio Grande do Sul, agora me aparecem com o esquartejamento de uma jovem de 19 anos em Santa Catarina. E,
para completar o quadro, a notícia da morte por espancamento de uma mulher no
Guarujá. Diz a imprensa que ela morreu por engano, devido a uma denúncia na rede
social de que uma mulher estava seqüestrando crianças na cidade para usar em
rituais de magia negra. A mulher foi barbarizada e espancada até a morte por
dezenas de pessoas. E, ao que consta, tratava-se de um engano. A polícia informou
que não há nenhuma queixa de desaparecimento de crianças no município. A
senhora massacrada, que sofria de transtorno bipolar, estava apenas passando pelo local. Morreu -morreu, não, dizimaram-na- por engano.
E como sou um leitor voraz, não
abro mão de percorrer os jornais de forma atenta, pelo menos, duas vezes por
semana. Posso dizer, então, que se juntarmos a internet, os jornais e o Jornal
da Cultura, a que assisto sempre que estou em casa à noite, recebo uma carga de
informações considerável. Assim é, para se tentar compreender o mundo e ter
alguma chance de sobrevivência neste inferno em que vivemos.
A verdade é que o mundo tem me
trazido, diariamente, latejamentos no espírito. Aguilhadas na alma. E me
abstenho, neste momento, de falar de governo, de política, de economia (Deus
nos proteja do que vem por aí), de Copa do Mundo. Lembro-me de Neruda: 'acontece que me canso de ser homem'.
Por esta razão, e por não ver
o que se convencionou chamar de ‘luz no fim do túnel’, é que tomei ontem uma decisão e uma atitude que há tempos –e bota tempo nisso!- não tomava. Angustiado, triste e desprovido de qualquer esperança, nos reunimos, Simone, eu e os meninos e nos postamos de pé, de mãos dadas, na sala, para fazermos juntos uma oração. Sim,
a TV estava ligada, como sempre. Mas desligar é fácil. É só apertar um botão.
Sim, um dos meninos colava figurinhas. Mas foi só pedir pra parar e voltar
depois da oração. Sim, as cachorras latiam, Mas é só esperar, que elas param. Um de nós se emocionou.
Foram poucos minutos de uma pequena conversa antes de nos dirigirmos ao Pai. Sentimo-nos mais fortes. Mais
reconfortados. Mais família. Mais preparados. E combinamos de voltar a orar
todas as noites, antes de dormir. Os quatro juntos. Para agradecer. Para tentar
entender o que se passa. Para pedir proteção. E tentar também despregar do peito a angústia que nos
traz tanta violência e tanta barbaridade.
Porque orar é preciso. Crer é
fundamental. E isso tudo, em família –com a licença dos incrédulos- é obrigação
de quem a tem.
Que Deus nos ajude a suportar o mundo. E a suportar a nós mesmos.