terça-feira, 6 de maio de 2014

FAMÍLIA

foto: salute.pourfemme.it

Benilson Toniolo

Foi um dia pesado. Como se não bastasse o impacto -que ainda permanece- da morte do menino Bernardo, de 11 anos, assassinado pela madrasta no Rio Grande do Sul, agora me aparecem com o esquartejamento de uma jovem de 19 anos em Santa Catarina. E, para completar o quadro, a notícia da morte por espancamento de uma mulher no Guarujá. Diz a imprensa que ela morreu por engano, devido a uma denúncia na rede social de que uma mulher estava seqüestrando crianças na cidade para usar em rituais de magia negra. A mulher foi barbarizada e espancada até a morte por dezenas de pessoas. E, ao que consta, tratava-se de um engano. A polícia informou que não há nenhuma queixa de desaparecimento de crianças no município. A senhora massacrada, que sofria de transtorno bipolar, estava apenas passando pelo local. Morreu -morreu, não, dizimaram-na- por engano.
E como sou um leitor voraz, não abro mão de percorrer os jornais de forma atenta, pelo menos, duas vezes por semana. Posso dizer, então, que se juntarmos a internet, os jornais e o Jornal da Cultura, a que assisto sempre que estou em casa à noite, recebo uma carga de informações considerável. Assim é, para se tentar compreender o mundo e ter alguma chance de sobrevivência neste inferno em que vivemos.
A verdade é que o mundo tem me trazido, diariamente, latejamentos no espírito. Aguilhadas na alma. E me abstenho, neste momento, de falar de governo, de política, de economia (Deus nos proteja do que vem por aí), de Copa do Mundo. Lembro-me de Neruda: 'acontece que me canso de ser homem'. 
Por esta razão, e por não ver o que se convencionou chamar de ‘luz no fim do túnel’, é que tomei ontem uma decisão e uma atitude que há tempos –e bota tempo nisso!- não tomava. Angustiado, triste e desprovido de qualquer esperança, nos reunimos, Simone, eu e os meninos e nos postamos de pé, de mãos dadas, na sala, para fazermos juntos uma oração. Sim, a TV estava ligada, como sempre. Mas desligar é fácil. É só apertar um botão. Sim, um dos meninos colava figurinhas. Mas foi só pedir pra parar e voltar depois da oração. Sim, as cachorras latiam, Mas é só esperar, que elas param. Um de nós se emocionou.
Foram poucos minutos de uma pequena conversa antes de nos dirigirmos ao Pai. Sentimo-nos mais fortes. Mais reconfortados. Mais família. Mais preparados. E combinamos de voltar a orar todas as noites, antes de dormir. Os quatro juntos. Para agradecer. Para tentar entender o que se passa. Para pedir proteção. E tentar também despregar do peito a angústia que nos traz tanta violência e tanta barbaridade.
Porque orar é preciso. Crer é fundamental. E isso tudo, em família –com a licença dos incrédulos- é obrigação de quem a tem.
Que Deus nos ajude a suportar o mundo. E a suportar a nós mesmos.