Para quem gosta de Poesia, para quem gosta de Arte e para quem gosta de Campos do Jordão não poderia haver notícia melhor. Depois de uma "parada no estaleiro" que já leva alguns anos, que o obrigou um derrame cerebral, o Poeta Mauro Valle volta a escrever. Ainda que com a mão esquerda, ainda que com imensa dificuldade -que só a prática e o exercício amenizarão- ele passa horas na mesa da casa da Vila Ferraz a copiar trechos inteiros de seus longos poemas, contidos em algum dos seus oito livros.
Sou fã de Mauro desde que conheci sua obra, apresentado que fui por Sérgio Asquenazi, o valoroso Diretor da Biblioteca Municipal. Ainda hoje seu Anjo Eveline, sua esposa, me liga de vez em quando e me convida para visitá-los. Chegando na casa sou recebido por um abraço apertadíssimo de Mauro, que me olha com seu olhar de menino encantado, fica dizendo "rapaz, rapaz..." e me conduz ao sofá da sala, onde ficamos por horas lendo poemas em voz alta e conversando sobre vários assuntos -menos futebol, porque Mauro infelizmente é corinthiano. Fazer o quê, minha gente? E enquanto dá sequência à interminável via sacra a que se dedica para deixar em ordem a grande casa, Eveline me oferece uma água de coco e de tempos em tempos sussurra ao Poeta: "Quer alguma coisa, meu anjo?"
Ler os poemas de Mauro para ele mesmo é um privilégio, além de me possibilitar -a mim, que sou seu admirador confesso- um contato maior e mais íntimo com sua obra.
Ler os poemas de Mauro para ele mesmo é um privilégio, além de me possibilitar -a mim, que sou seu admirador confesso- um contato maior e mais íntimo com sua obra.
Pois Mauro é assim. Ou se não é, foi assim que o conheci, e por quem me afeiçoei pelos caminhos da literatura e da fraternidade. Sem falar no fato de que não é todo mundo que tem o privilégio, como eu tenho, de ser amigo de quem se admira.
Com a volta de Mauro à literatura, pelo menos para mim, o mundo fica bem melhor.
Abaixo, um dos poemas de sua autoria que publiquei no Blog Nova Poesia Brasileira, recitado por Eduardo Suplicy no Senado, no ano passado:
XXVIIIGarças de Tremembé
Clareai a minha hora
Ó arrozais erguidos
Na solidão da planície
Tecei para mim
Portas de vento e verdes
Um riso que seja o rio
Da serrania de meu coração
Vinde, meus irmãos
Ouvir as alvoradas
Que os homens não quiseram entender
Eles enganam, matam, corrupiam
À luz da salmodia
Cifrão
Garças de Tremembé
Irmãs da inocência
Que às vezes perdi
Quem sou senão esquecimento?
Que sois senão as asas que me restam?
Vosso vôo em branco
Antigo chamamento
Agora é meu ser amanhecendo
Clareai a minha hora
Ó arrozais erguidos
Na solidão da planície
Tecei para mim
Portas de vento e verdes
Um riso que seja o rio
Da serrania de meu coração
Vinde, meus irmãos
Ouvir as alvoradas
Que os homens não quiseram entender
Eles enganam, matam, corrupiam
À luz da salmodia
Cifrão
Garças de Tremembé
Irmãs da inocência
Que às vezes perdi
Quem sou senão esquecimento?
Que sois senão as asas que me restam?
Vosso vôo em branco
Antigo chamamento
Agora é meu ser amanhecendo