segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

COQUINHO, O ARTILHEIRO DA PRAIA

Benilson Toniolo

                                                       

A bola vinha da direita. Escanteio. O Digo ia bater, e ele só sabia bater por cima. Às vezes ele ia enfileirando os caras pela ponta, e na hora de cruzar o Coquinho se posicionava no meio da área e pedia a bola à meia-altura, que era a bola que atrapalhava a defesa. Cruza baixo, Digo, caralho. E lá vinha a bola pelo alto. Coquinho não era bom de cabeça. Se atrapalhava, perdia o tempo da bola, subia antes, descia antes, e quando estava descendo é que a bola estava chegando lá em cima. Coquinho não alcançava. Cruza baixo, Digo. Muita gente na área, que era o risco que a molecada fazia com um pedaço de pau qualquer, na areia da praia, imitando um campo de verdade. Coquinho foi chegando depois dos demais pra confundir a marcação, sabia que o Digo demorava pra bater. Se chegasse antes, o zagueiro colava nele, ficava difícil encontrar espaço, até a bola vir tinha que ficar brigando por espaço. Nos escanteios, sempre chegava depois. Com o tempo, parou de subir pra disputar o cabeceio. Sabia que perderia. Tinha dezoito anos e contava só um gol de cabeça na vida, ainda sim em gol caixote, na pelada do meio da rua. Depois aquilo foi aborrecendo. Não ganhava uma por cima, os companheiros de time reclamavam. Sobe direito, Coquinho. Coquinho subia, e não ganhava uma. Subia de novo, e nada. Não achava o tempo da bola. Tinha tentado treinar as cabeçadas no quintal de casa, mandava o irmão mais novo jogar a bola bem alta na direção dele, pra ele subir e meter a testa. Às vezes o menino mandava alta demais, ou baixa demais, ele reclamava. Joga essa bola direito, moleque, na altura da minha testa. O menino jogava na altura do nariz, do queixo, do pescoço, mas não chegava na testa. O menino não tinha força. Então ia para a parede, quem errava era ele. Jogava a bola na parede para tentar cabecear na volta. Não dava. Alta demais, baixa demais. Tinha que resolver aquilo. Não existe jogador profissional que não saiba cabecear. Ainda mais centroavante. Tu quer ser centroavante que nem o Chulapa, que nem o Juari? Então vai ter que apreender a usar a cabeça. Foi desistindo. Optou por uma saída tática: nos jogos, fingia que ia pular, o marcador ia, cortava o cruzamento e ele ficava. Não deu certo. Já tinha falado pro Digo, que cruzava da direita, e pro Peu, que cruzava da esquerda: cruza baixo. Pode deixar. Pode deixar, uma ova. Lá vinha aquela lua na direção dele. Subir, até que subia. Nunca pegava nada. Bom, uma vez acertou a bola, que veio com muito efeito, bateu na parte de cima da cabeça (no cucuruto) e saiu bisonhamente por cima do gol. Foi feio, a molecada riu. Voltava pra buscar jogo, se deslocava, tentava entrar tabelando com o pessoal que vinha de trás, batia bem de pé direito. O esquerdo era praticamente uma nulidade, mas o direito compensava. Habilidoso, prendia bem a bola, segurava lá na frente, tinha velocidade. Era só não jogar por cima que estava tudo certo. E lá vinha o escanteio. Ficou atrás do último zagueiro, um pouco antes da marca do pênalti, entre a marca do pênalti e a linha que delimitava a grande área. Finzinho de jogo, três a três, todo mundo já meio com a língua de fora, e ele passando em branco. Já não tinha marcado no jogo da semana passada. Centroavante que não faz gol está pedindo pra deixar o time. O Digo demorando pra bater, e Coquinho ali, um migué danado, dando de morto pra comer o coveiro. O Digo correu, pela troca de pés ia bater com o direito, que esquerdo ele também não tinha. Aliás, na praia quase ninguém era canhoto. Era outra coisa que tinha que aperfeiçoar no futuro, a habilidade com o pé esquerdo. Ela veio alta demais, o goleiro saiu, não alcançou. Ia sobrar para ele, o centroavante. O zagueiro adversário se deslocou de costas em sua direção, e com a mão direita o Coquinho o tirou do lance com um empurrão leve. Se alguém pediu falta, ele não ouviu. Bora. A bola caiu no pé esquerdo, ele dominou e trouxe pro direito. Tudo muito rápido. O zagueiro da cobertura veio, ele puxou pro pé esquerdo e tirou o cara. Veio o seguinte, a mesma coisa: tocou pro esquerdo, veio em velocidade, trouxe pro direito e o cara ficou. O terceiro veio no carrinho, ele tirou do mesmíssimo jeito com que tinha driblado os dois primeiros. Fez tudo isso olhando para o chão, para os pés que trocavam a bola de lugar a cada drible. Sim, tudo muito rápido. Quando olhou adiante estava na frente do gol, teve a impressão que o goleiro sairia para abafar, mas ele ficou. Ainda ouviu a voz do Guto, que era meia e raramente aparecia pra concluir: “toca!”. Tinha duas opções pra finalizar: alto, pra tentar encobrir o goleiro de boa estatura, ou de três dedos, rasteiro, no canto oposto, com o risco de algum zagueiro aparecer para tirar de carrinho. Pensou nos três adversários que tinha acabado de deixar para trás (quatro, se contar o do empurrão) e bateu de chapa, com a categoria habitual, no contrapé. Caixa. Gol. Golaço. Golaço, caralho. Saiu comemorando pelo mesmo lado da finalização, correndo de braços abertos e sem camisa sobre a areia escura da praia, a sombra dos refletores sobre a areia denunciando que estava fora de forma, braços abertos sob o céu, riso na cara, os companheiros de time correndo atrás, que golaço, que gol lindo, deixou o time deles no chão, puta golaço, Coquinho. Se foderam, seus trouxas. Para ele, era o desafogo. Craque é isso aí. Pode passar o jogo inteiro sem produzir, mas chega na hora de decidir não tem pra ninguém. Gol do Santos. A Vila Belmiro explode com um golaço de Coquinho, o menino que saiu da Bacia do Macuco pra fazer história com a gloriosa camisa alvinegra. Que cabeça, o quê. Era bom com seu pé direito. Quando caía no pé bom, ninguém pegava. Pode botar Carlos, Paulo Sérgio, Cantarelli, Valdir Peres, Leão, pode botar quem for. Na sua cabeça vinha a voz do Osmar Santos: “é fogo no boné do guarda, e que gooooooooooooooooollll!”. Quatro a três, acabou o jogo. Desmontar as traves pra guardar na guarita do zelador do prédio, pegar a roupa atrás do gol, guardar a bola, ajudar os caras a desmontar o campo. Já já são dez da noite, vão apagar as luzes da praia. Não foi tomar cerveja com os colegas de time nos bares do Canal 4, que o dinheiro que tinha no bolso só dava para pegar o trólebus. Dia seguinte era quarta-feira, dia de ver se tinha algum bico pra fazer e arrumar um troco, que aquela vida era dura, principalmente depois que o pai saiu embarcado e não voltou mais, depois de quase dez anos. Vai trabalhar, moleque, diria a mãe na manhã seguinte. Não quero saber de vagabundo dentro de casa. E o Coquinho ia, sem experiência de trabalho, ajudar na feira da Glicério, ajudar a carregar carrinhos e sacolas no mercado, que era o que lhe cabia. Carregamento de frutas, de verduras e de legumes na mercearia do japonês. Dava um troco por dia, se chegasse cedo. Até chegar o dia em que abriria vaga pra fazer teste no Santos. Peneira. Aí eles iam conhecê-lo, já no primeiro teste. Primeiro, tinha que treinar muito o cabeceio. E o pé esquerdo, que pelo jeito ia dar menos trabalho. Coquinho, o menino da Bacia do Macuco que ia fazer história na Vila. O que uma noite tinha deixado três (três não, quatro) zagueiros no chão antes de, com categoria, dar a vitória ao seu time de praia. Que, no fundo, ele sabia que se chamava Santos Futebol Clube.

domingo, 29 de dezembro de 2013

DOUTOR RAY-LLANDER, PROFESSOR DE TOLERÂNCIA


Benilson Toniolo

Tenho um ‘amigo’ na rede social chamado Ray-Llander Fagundes. Não é erro de digitação, não, o nome dele é esse mesmo. Ray-Llander. Deve ser uma variação daquele personagem de cinema que não morria nunca. Aliás, Ray-Llander, talvez influenciado pelo nome que escolheram para ele, também deve achar que é imortal. Pela sua forma de agir, aliás, imagino que pense assim. Ninguém vem ao mundo com um nome desses impunemente, ora bolas.
Ray-Llander posta na internet muitas fotos de si mesmo, e sempre fotos em que ele aparece sozinho, nunca olhando para a câmera, tendo por fundo uma paisagem do exterior. Pirâmides do Egito, canais de Veneza, Louvre, Capitólio, safáris na África, palácios russos, Taj-Mahal, cais de Cuba, o diabo. Ray-Llander está em todas, e em todos os lugares. Quando a gente menos espera, ei-lo na tela à frente. Deve ser médico, porque em algumas fotos (as que tira em solo tupiniquim) aparece de jaleco branco e estetoscópio. Ray, ou Llander, é um sujeito importante. Viaja muito. Deve ter mais milhas obtidas em viagens internacionais nos seus inúmeros cartões de crédito do que eu, de vôos domésticos.
Diz ser escritor. E assume esta condição com a mesma convicção com que eu evito dar a mim mesmo este título. Ser escritor é coisa séria. É quase como um sacerdócio. Subir em um altar com a Bíblia nas mãos para tentar decifrar à turba o que é que Deus quis dizer com isto ou aquilo é tarefa para pouquíssimos –ou para loucos. Dizer-se escritor é quase a mesma coisa. Dizer-se escritor significa assumir que esta é a sua profissão, e que erros de gramática, por exemplo, comum a todos os mortais, não lhe ocorrem jamais. Coisa para loucos. Ray-Llander não. Ele não erra nunca.
Algumas de suas postagens me incomodam. Recentemente, ele disse que não há nada mais desprezível que um escritor que paga para publicar seus livros. Como se trata do meu caso –e de, certamente, 95% dos casos de quem escreve livros no Brasil, achei que era o caso de responder à postagem informando-o da injustiça, da indelicadeza, que estava cometendo. Nesse dia, quase pedi a ele que me devolvesse o livro que um dia lhe enviei pelos Correios, e que ele nunca acusou recebimento. Mas fiquei quieto, por achar que não valia a pena ‘comprar uma briga cibernética’ que certamente traria a mim, pobre mortal, mais prejuízos que a ele, que está acima de todas as coisas.
Engoli mais este batráquio que veio do Nordeste, onde vive Llander, o escritor que não precisa pagar para publicar seus livros.
Outra postagem que me chamou a atenção é a que ele qualifica José Dirceu e sua quadrilha como ‘heróis do povo brasileiro’. Perguntei-lhe por qual motivo dedicava tamanha admiração e subserviência a políticos que foram acusados, investigados, julgados e presos por formação de quadrilha, evasão de divisas, improbidade administrativa e outros crimes contra a Nação. Ele respondeu, entre outras coisas, que tratam-se de pessoas que trazem em sua história de vida o fato de terem integrado as guerrilhas que lutaram contra a ditadura militar, tendo sido inclusive torturadas e exiladas pelo regime. Perguntei se este histórico dava a elas o direito de surrupiar dinheiro público para comprar apoio de parlamentares ao governo Lula, e ele respondeu que eu, como membro de uma elite branca e paulista que busca anular os avanços conquistados pelo governo PT, sou mais um influenciado pela mídia fascista e de direita, revoltada com o fim dos nefastos privilégios imposto pelo presidente Lula, que acabou por alçar o Brasil ao posto de potência indiscutível e irremediável no cenário mundial. Tá, mas e o mensalão? ‘Nunca existiu’, disse ele.
Nos últimos dias, atingiu o ápice. Escreveu lá em sua página pessoal que o ódio que as elites têm de Lula é maior do que o ódio dos alemães aos judeus. Não dá pra comentar. Nem pra levar a sério.
Ray-Llander é danado. Traduz para o inglês os próprios livros, execra todo aquele que é contra seu credo (principalmente o político) e ultimamente tem postado fotos recebendo cumprimentos em clubes literários. Está sempre muito bem acompanhado nas fotografias. Mas continua olhando de lado, sem encarar a câmera. Faz de conta que receber cumprimentos, posar para fotos no exterior faz parte do seu cotidiano. E deve fazer, mesmo.
No fundo, o mais provável seria pensar que o Doutor Ray-Llander não passa de um factóide, um personagem que alguém tenha criado para atazanar a vida dos outros que, como eu, prestam atenção no que as pessoas têm a dizer. Com um nome desses, e com posicionamentos deste teor... mas não. Ele existe, pensa, trabalha e se posiciona. E adora aparecer em fotografias.
Estive a ponto, mais de uma vez, de excluí-lo de minha rede de contatos. Seria a atitude mais fácil: bloqueio, deleto, elimino, excluo, e pronto, me vejo livre de suas postagens. Seria a saída mais confortável –e a mais covarde também.
Se por um lado ninguém é obrigado a conviver com quem não simpatiza, por outro não é de bom alvitre simplesmente fingir que não existe alguém que não comunga do mesmo pensamento que nós. Não foi isso que aprendi ao longo da vida. Não é isso que tento aprender e incorporar a cada dia. Não é esse tipo de pensamento e postura que pretendo deixar de exemplo aos meus filhos.
Portanto, não excluirei o Doutor Ray-Llander Fagundes de minha rede de contatos na internet. Estou ciente de que continuar com ele ainda vai me trazer muitos dissabores, caso ele continue agindo da forma que age. Mas vai me proporcionar também praticar com freqüência o exercício da tolerância, do respeito à opinião alheia, da convivência pacífica entre iguais que pensam diferente. E vai me permitir trocar boas porradas ideológicas, pelo menos virtualmente.
Por isso vou continuar acompanhando o que se passa pela cabeça deste meu ‘amigo’. No mínimo, ele me auxiliará a elaborar melhor os meus pontos-de-vista. E a entender que ninguém, muito menos eu, e muito menos ele, somos donos da verdade.
Às armas, 'companheiro'!

A IMORTALIDADE POR MERECIMENTO

Benilson Toniolo

Existem dois brasileiros, atualmente, a quem a imortalidade, se existisse, cairia muito bem: Ariano Suassuna e Manoel de Barros.
O primeiro, recém egresso de um infarto e de duas internações hospitalares que deixaram em polvorosa o meio cultural brasileiro, acaba de aceitar o convite do Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para coordenar a elaboração do plano de políticas culturais e educacionais do seu programa de governo, pré-candidato que é à Presidência da República nas eleições do próximo ano. Além disso, anunciou que pretende sair às ruas em campanha pela candidatura do neto, João Suassuna (homônimo do pai de Ariano, assassinado em 1930 por forças políticas adversárias que também haviam acabado de matar João Pessoa, no Rio de Janeiro, por motivos até hoje mal explicados), a deputado federal. Suassuna, um verdadeiro guardião da cultura brasileira, tão logo recuperou minimamente a saúde, retomou suas aulas-espetáculo em todo o Brasil, multiplicando sua sabedoria e seus ensinamentos para ouvintes de todos os recantos e sotaques. Recentemente alguém definiu suas apresentações como ‘stand-up comedy’. Para quem conhece a obra do paraibano o mínimo que seja, sabe o quanto o ofenderia esta definição totalmente desprovida de bom-senso. Seria como chamar Bill Clinton de nordestino. Valter Hugo Mãe, dia desses, contou que fez uma visita a Ariano em sua casa, no Recife, durante sua participação na última Fliporto, e saiu de lá ‘em choque’, ao contar que Ariano, em determinado momento, olhou-o fixamente e vaticinou: ‘Eu não pretendo morrer’. A julgar pela retomada de sua vida pública, é bom que ninguém duvide que Ariano Suassuna seja capaz de derrotar Caetana, como intitula a morte.
Já o mato-grossense Manoel de Barros resistiu como poucos à morte de João, seu filho mais velho, ocorrida há cerca de sete anos num desastre aéreo. Recluso em sua fazenda no Pantanal, continua, do alto de seus quase cem anos de vida, a escrever, criar e a observar as ‘coisas e acontecimentos desimportantes’ do mundo, que recolhe e transforma em poesia –uma poesia inédita, forte, intensa, viva e identificada com aquilo que o Brasil tem de mais valoroso, que é o seu povo.
Justiça houvesse no mundo, Ariano e Manoel já teriam sido reconhecidos, no mínimo, com o Prêmio Nobel de Literatura. Caberia uma ação efetiva do Governo brasileiro na indicação de ambos para que fossem reconhecidos mundialmente por sua luta em prol da cultura deste País. Mas como estamos muito preocupados com campeonatos de futebol, muito provavelmente o máximo que os governantes dediquem aos dois seja um lacônico e protocolar anúncio de pêsames em suas exéquias.
Isso, somente quando estes dois guerreiros se derem por satisfeitos e resolverem dar trégua a Caetana. O que, pelo jeito e felizmente, para o bem da cultura e do povo brasileiro, ainda vai demorar muito para acontecer.

Manoel de Barros

Ariano Suassuna
                         

                                             




sábado, 21 de dezembro de 2013

AMÉM

                                                          Benilson Toniolo


A literatura é o resultado de um diálogo de alguém consigo mesmo (José Saramago)

No fundo, sou mesmo praieiro. Praieiro de pé no chão: na lama, no asfalto escaldante, na areia da praia, no alto das pedras, na beirada da água, onde a arrebentação não alcança. Com o suor escorrendo o dia inteiro pelo corpo, a testa ensebada, a vista a perder de vista pela linha reta do horizonte mais adiante.
No fundo, sou litorâneo. O mar me fez poeta, com seus mistérios e vertigens. O balanço das barcas do estuário, as ostras enclausuradas, os peixes nos barcos, as redes esticadas ao longo do dorso oceânico.
No fundo, sou caiçara. Respeito Iemanjá e seus filhos que se atiram nas águas ainda de madrugadinha, quando só a lua vela por todos, do alto de sua morada no céu infinito.
Catei siris ao pôr-do-sol, joguei muita bola pelas ruas de terra e pelas faixas de areia escura, vi o afogado passar bem ao lado da catraia. Namorei nos bancos da praia, fotografei turistas, cismei no quebra-mar da Ponta das Galhetas, tive medo de morrer nas pedras do Guaiúba.
Emudeci diante da visão do Monte Serrat.
Chorei de tristeza e de alegria nas arquibancadas da Vila, o uniforme branco maculado pela derrota mais humilhante e canonizado na vitória mais consagradora.
Bebi cerveja nas Bocas, joguei  sinuca no Marapé, amanheci esperando os ônibus do Macuco.
No fundo, é de lá que eu sou.
Das quebradas do Itapema, da Vila Zilda, Jardim dos Pássaros. Jabaquara. Aparecida, Boqueirão, Embaré, Encruzilhada.
Vô e vó no Saboó e pai na Areia Branca. Conheço. É de lá que eu sou.
Das lindezas das Astúrias, da praia de Pernambuco, das amizades da Santa Rosa, da Pouca Farinha.
Sou o gordo do coleginho, sou eu mesmo. O louco por bola, o que queria ser goleiro e era míope, o que sofreu quando os amigos partiram, sabe Deus para onde.
O que ficou devendo, o que não arrumava emprego, o que queria voar.
O que mentiu e acreditou, o que cantou árias pra lua, o que quis morrer e teve medo de tentar.
No fundo, sou isso mesmo.
E é para lá que eu volto, por estes dias que ainda restam do ano de dois mil e treze. Com mulher e filhos, a celebrar com a mãe e o irmão a festa do Natal.
Volto diferente, que muitos anos se passaram desde que vim para a montanha. Mas eu volto porque preciso. De descanso, de repouso, de silêncio, de estar com aqueles que amo. Há quem diga que o que é busco é o retorno ao útero materno. Pode ser, não desminto. Aquela história de segurança, de vínculo, etc. Pode ser. Chamem como quiser, o que eu quero é estar em casa.
No porta-malas levo livros para os amigos e a cabeça pronta para novas memórias.
Passado o Natal volto para a Montanha, que é o lugar que agora me cabe, e onde pretendo ficar.
Venham comigo, meus amigos, meus irmãos: a vida é apenas aquilo que somos, com todos os vícios e virtudes  de que somos feitos. O resto é péssima literatura.
Na época da celebração do nascimento de Cristo (que, afinal, é o dono da festa), é para minha mãe que volto. Mãe-terra, mãe-cidade, mãe-gente.

Que Deus nos abençoe.

sábado, 14 de dezembro de 2013

CURITIBA: AMIGOS NOVOS, NOVAS SAUDADES

Benilson Toniolo


Disse Cervantes que ‘aquele que lê muito e anda muito, vê muito e sabe muito’. Não tenho esta pretensão toda, mas o fato é que gosto muito de viajar. De ônibus, de trem, de avião, automóvel. Infelizmente tive que adiar uma viagem que planejava, e que duraria mais de 40 horas, no lombo de um ônibus, até União dos Palmares, interior de Alagoas e terra de meu pai, que faria agora em janeiro próximo, em razão das avarias no joelho esquerdo. Mas a idéia continua de pé. Será uma orgia literária. Quarenta horas dentro de um ônibus, já imaginaram a quantidade de poemas a escrever e a ler? Mas o fato é que o calor do verão nordestino também assusta, e não desejo chegar a União vindo do conforto de um vôo tranqüilo ou de ônibus-leito. Desejo sentir cada metro da estrada, cada enfado e cada descoberta, cada imagem e até mesmo cada irritação. Mas e os riscos de assaltos no meio da estrada? Todos os passageiros nus – os que sobraram, evidentemente, vivos- enfiados no bagageiro, como fazem no chamado ‘polígono da maconha’, que vai da Bahia até Pernambuco? Com a canícula nordestina? Melhor esperar.
O que não acontece aqui em Curitiba, onde no momento me encontro para receber a Medalha do Mérito Cultural 2013, a mim atribuída pelo pessoal do Movimento Poetizar o Mundo, comandado pela professora Isabel Furini. Aqui é frio. Lembra muito Campos do Jordão, não só pelo clima como também pela onipresença dos pinheiros. A bandeira da cidade é muito parecida –diria idêntica- à nossa.
A entrega da medalha foi ontem, durante um evento cultural que contou com a abertura de uma exposição de quadros, fotografias e leitura de poemas de artistas paranaenses. Chamava-se Perspectivas, a exposição. O local é um centro gastronômico-cultural, chamado Alberto Massuda, no centro histórico de Curitiba. Boas conversas sobre arte, política, cultura, história. Gente boníssima, do tipo que oferece carona para te levar de volta ao hotel. Aceito, obrigado. Na agenda para o ano que vem, promover intercâmbio entre artistas jordanenses e curitibanos. Derrubei espumante em um prato de patês que fazia parte do coquetel. Me desculpei com o garçom.
Saí para o aeroporto ainda escuro, antes das cinco da manhã. Às onze, já estava em casa, sendo recebido pelo cheirinho do café de Simone. As malas mais pesadas que na ida –sempre é assim- de tantos livros recebidos, presentes, camisetas. A alma repleta de novas memórias e o coração ainda se refazendo das alegrias que este encontro me proporcionou. Por tudo isso, já vale a pena o acidente de estar vivo.

Sim, ainda trago Curitiba nos olhos. E não li Leminski sobre as ruas de paralelepípedo, ocupado que estava em admirar o céu e a terra da capital do Paraná. Esqueçam a Europa. Curitiba, dependendo de quem a visita, é até melhor.



sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NÓS E ELES


Benilson Toniolo

Brasília recebe por estes dias mais uma edição da Gymnasíade, a maior competição mundial de estudantes-atletas, ou atletas-estudantes. Uma espécie de olimpíada para a molecada. Muitos dos que aqui estarão certamente nos próximos Jogos Olímpicos, se não no Rio de Janeiro, dentro de pouco mais de dois anos, mas nos posteriores. Uma moçada muito bonita, com seus agasalhos coloridos e seus rostos recém-entrados na adolescência. Alguns já saindo dela, é verdade, mas não menos belos. Então é comum encontrar por aí com grupos de jovens russos, mexicanos, cubanos, chineses, cipriotas, espanhóis, franceses, gregos e chilenos, só para citar os que dividem o mesmo hotel onde me hospedo na Capital Federal. Alongam esguiamente no lobby, pelas escadarias, no elevador. Fotografam, falam ao telefone e ouvem muita música nos seus equipamentos fantásticos. E como riem, como riem gostosamente esses jovens atletas!
Estão pela cidade toda. Nas ruas, nos shoppings, no metrô, nos pontos de ônibus. E sofrem com uma dificuldade imensa: comunicar-se com a maioria dos brasileiros. Nos últimos dois dias, flagrei algumas cenas constrangedoras envolvendo estrangeiros querendo comprar coisas, ou mesmo obter uma simples informação, e não conseguirem ser entendidos por nossos compatriotas. Na livraria, no coffee-shop do hotel, no ponto de taxi, no Museu JK, enfim, é comum vermos nossos visitantes passando apuros pelo fato de os atendentes não conseguirem saberem se comunicar com eles.
Devíamos ter sido informados com a devida antecedência que o País entraria no rol dos grandes destinos do mundo. Não nos preparamos, é isso que dá. Temos que pedir desculpas duas vezes: aos nossos visitantes, por não sabermos nos comunicar o mínimo que seja naquele que é o idioma que permeia as relações comerciais ao redor do planeta; e ao nosso próprio país, pois são incontáveis as vendas no comércio que acabam frustradas pela nossa incompetência, pela nossa falta de conhecimento e de educação. Menos divisas para os cofres da nação, por simples falta de capacidade básica de comunicação.

Se bem que a atendente do hotel ainda dá um jeito -o jeito dela. Ao ver um estrangeiro se aproximando do balcão, ela abre a portinhola de entrada, encosta-se nos fundos da loja, dá um meio-sorriso simpático e orienta o cliente: ‘entra e pega’. Como o valor da mercadoria está na etiqueta, a ele só é dado o trabalho de pagar e, a ela, o de dar o troco, quando troco houver. O cliente, quando se lembra, agradece com um ligeiro aceno de mão. Ponto para o Brasil.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

NOVAS REFLEXÕES DE BRASÍLIA


Benilson Toniolo

A Ministra da Cultura abriu a III Conferência Nacional de Cultura de forma exemplar: sem lançar mão de afetações e ‘protocolismos’, fez um discurso breve e direto, elencando as principais realizações de sua pasta nos quatorze meses de sua gestão e fazendo um apelo em prol da inserção dos jovens das periferias e dos mais distantes recantos do País na tomada de decisões. Em nossa reunião em São Paulo, há quinze dias, já tinha tido a impressão de ser ela uma pessoa simples, honesta e comprometida. Difícil vincular o que tenho visto com a imagem que a imprensa, principalmente a tevê, fazem dela. Penso que a Cultura brasileira está em boas mãos. Recordo que critiquei muito sua indicação. Hoje, retiro o que disse. Marta Suplicy está fazendo, sim, um excelente trabalho. E temos aprendido muito com ela.

Hoje, no Brasil, é pura perda de tempo, saliva e tinta de caneta querer discutir com dois grupos: o que acha que o mensalão do PT é o maior escândalo de corrupção da história do País e o que acha que os encarcerados (principalmente o trio Delúbio-Dirceu-Genoíno) são presos políticos injustiçados e perseguidos por uma elite ensandecida e por uma mídia golpista. Apropriar-se de dinheiro público não-declarado para comprar o apoio de parlamentares ao Governo é crime. Ponto. E quem comete crimes deve ser julgado e punido. Não há mal algum nisso.
Grave, grave mesmo, é saber que ao menos 56 pessoas no Estado de São Paulo ficaram presas injustamente por dias, meses e anos, apenas por terem nomes parecidos ou serem homônimos dos verdadeiros criminosos. Alguns, foram detidos por terem seus documentos roubados e utilizados no crime. Ou seja, são vítimas de um Estado desorganizado, incompetente e corrupto, que faz uso de sistemas de controle que não funcionam. Para eles, indenização –que o Estado sempre protela o quanto pode, recorrendo em todos os níveis que a Justiça permite- é pouco. Mereciam iniciar de novo uma nova existência. Isso é muito mais grave que a prisão dos mensaleiros –ainda que sejam, ambos, fatos inaceitáveis.

Enquanto isso, a Suécia anuncia o fechamento de quatro penitenciárias devido –pasmem!- à falta de presos. Esta é, na síntese, a diferença que um sistema educacional eficiente faz em um país. Aqui no Brasil, o governo continua buscando espaço e dinheiro para construir novos presídios.


“Os grão-tucanos garantem que Lula sabia das traficâncias dos mensaleiros. Esses mesmos grão-tucanos garantem que nenhum dos três governadores paulistas sabia das traficâncias do cartel da Alstom. Pode-se acreditar numa coisa ou na outra, mas acreditar nas duas é tarefa difícil’. Frase de Elio Gaspari na Folha. E acreditar que todos sabiam de absolutamente tudo?



TER PARTIDO: PARTIR

Benilson Toniolo

Deu-se comigo, hoje, um fato inédito: perdi o vôo. Por uma série de trapalhadas da pessoa encarregada de me trazer ao aeroporto, apresentei-me ao guichê da companhia aérea no exato momento em que o avião iniciava seus mastodônticos movimentos em pista para decolar. Paciência. Taxas pagas e embarque remarcado para dali a três horas, consolei-me com a possibilidade de que, no fim das contas, talvez eu não devesse mesmo embarcar naquele vôo. Sempre acontece assim nos grandes acidentes aéreos: sempre fica alguém que, por ter se atrasado para o embarque, foi poupado da morte trágica de um desastre a dez mil pés de altura do chão. Neste caso, felizmente, ambos os vôos, o que eu perdi e o que entrei depois, aterrissaram bem, e sãos, e salvos. Ao menos pelo que eu saiba. Maktub, como diriam Coelho e os adventistas.
Não, não briguei, não fiz escândalo, não me exaltei. Guardei em mim a inevitável frustração  causada pelo atraso e, quando finalmente chegamos, desejei ao motorista uma boa viagem de regresso. Isso deve tê-lo acalmado.
Ocorreu que, de ineditismo em ineditismo, deu-se-me outro: o de ter pela frente três horas absolutamente ociosas, obsequiosas de preenchimento, a perambular pelo aeroporto. Refiro-me a um ineditismo de, pelo menos, três meses para cá. Três horas inteiras, que preenchi colocando em dia as leituras atrasadas do fim-de-semana, tomando um lanche e um chope –caríssimos, por sinal.
Vou à livraria Saraiva e, para me atualizar do que está acontecendo no lugar de destino –Brasília- resolvo comprar o Correio Braziliense, que retiro da prateleira. Pago o valor no caixa –R$ 2- e, enquanto aguardo a notinha que o atendente em treinamento tenta imprimir, percebo que o jornal é do dia anterior. Neste momento já estou em outro caixa, já que o atendente em treinamento não conseguiu imprimir o recibo.
- Moça, vou ali trocar o jornal, porque este aqui é de ontem.
- Não tem, moço. Jornais de outros estados, só temos os do dia anterior.
- Bom, então vou trocar por uma Folha de S. Paulo, que pelo menos é de hoje.
- Não pode. A Folha, o senhor vai ter que comprar.
- Mas isso está errado. Não posso pagar por um jornal de ontem. Como é que vocês botam para vender um jornal de ontem?
- ...
- Me diga uma coisa: por acaso são muitas as pessoas que entram aqui e pedem para comprar um jornal do dia anterior?
Pego a Folha. A atendente –que não está em treinamento- está de posse do meu jornal de ontem, pelo qual já paguei e não pretendo ler.
- Vou tentar fazer a troca. O senhor tem cadastro na Saraiva?
- Eu, não. Minha mulher deve ter.
- O senhor sabe o número do CPF dela?
- Sei.
Simone, isso mesmo. Ela confirma o nome.
- O senhor está com documento da sua esposa aí?
- Olha, milha filha, vamos fazer o seguinte. Você me devolve os R$ 2 que paguei e vou embora.
- O senhor está com a notinha aí?
- Não, não estou. Porque seu colega não sabia imprimir.
Olho em volta e o atendente em treinamento sumiu.
- Então não vai ser possível, senhor...
Pago mais R$ 3 pela Folha e mando a menina enfiar o jornal de ontem de volta na prateleira. Poderia até trazer, mas sabe como é. Jornal de ontem.
É por cenas assim, por acontecimentos tão pequenos, mas tão constrangedores, que a gente percebe por que é que um país não dá certo. Por que é que um país implode.

A senhora de olhos fixos no telefone celular, parada no meio do saguão, eleva o tom de voz e determina: ‘vem aqui, Isabel’. A menina Isabel está bem ao seu lado, segurando uma mochilinha cor-de-rosa, e dirige-se à mulher num olhar interrogativo: ‘tô aqui, vó’. Mas a avó da Isabel só tem olhos para a tela do celular. Pobre celular.

O apartamento do hotel é exatamente defronte ao Estádio Nacional Mané Garrincha, um dos vários construídos no Brasil para o Mundial de Futebol do ano que vem –todos erguidos com uma velocidade espantosa para dar conta das exigências impostas pelo ‘padrão FIFA’. Ligo a tevê e recebo a trágica notícia da morte de três operários nas obras do estádio de São Paulo. Segundo dizem, já são seis os trabalhadores brasileiros mortos nestas obras. Será que precisamos mesmo disso? Quantos trabalhadores ainda serão sacrificados para organizarmos um campeonato de futebol? Impossível não me lembrar do General Figueiredo, que no fim dos anos 1970 recusou uma proposta para organizar o mundial de 1986 em nosso País devido aos absurdos custos envolvidos. É em momentos como este que começamos a entender porque algumas nações avançam, e outras implodem. Nas pequenas e grandes tragédias.

Brasília continua linda, apesar das inúmeras e gigantescas obras a que está submetida e que causam os transtornos naturais que empreitadas como estas costumam causar. A visão noturna da Catedral e da Praça dos Três Poderes, todas iluminadas, é das mais bonitas. Lugares tão monumentais, alguns dos quais que se constituem nos grandes centros nervosos das principais decisões tomadas pelos três principais poderes políticos, mergulhados no silêncio ensurdecedor e escuro do oeste, remetem a breves reflexões e causam o tremor característico de quando nos flagramos exatamente no meio da História de um país. É sempre bom rever a capital federal, antes que imploda.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

PERDAS

Benilson Toniolo

                                          foto: facebook

O Professor Odair Bernabel nos deixou hoje, aos sessenta e seis anos. Era daquelas pessoas que a gente conhecia mesmo sem nunca ter sido apresentado. Encontramo-nos algumas vezes, e nunca trocamos mais do que meia dúzia de palavras. Cidade pequena, sabe como é. Grandalhão, jeito simples e sossegado, parecia ser daquelas pessoas que nunca se zangam. Passos lentos. Olhos atentos ao movimento das pessoas, das ruas.
Mas como conhecê-lo, sem nunca termos sido apresentados um ao outro? Simples: pelo que se dizia dele. Professor Odair –ou Dairzão, pela estatura e por outras características morais- caminhava pelas calçadas de Abernéssia sem precisar se apresentar a ninguém. Sua história como pai, cidadão, trabalhador e avô falavam por ele. Desnecessário que ele se apresentasse. Assim é com os que andam direito nesta vida: a própria vida se encarrega de dizer quem somos. Com Professor Odair foi assim que se deu.
Quando partiram Dynéas Aguiar e, mais recentemente, Daniel Corrêa Cintra, cheguei à conclusão que a melhor maneira de prestar-lhes homenagem era fazer o que eles fizeram de melhor enquanto aqui estiveram, ou seja, trabalhar. Trabalhar pela cultura, pelo conhecimento, pela educação, pela disseminação do conceito de que somente através do trabalho e do estudo poderemos construir pessoas melhores e, consequentemente, uma sociedade mais justa e fraterna. Um mundo melhor. Uma Cidade melhor, mais comprometida com seu futuro e menos presa a mesquinharias, pequenezas e a esta terrível subserviência que nos limita tanto.

Mais um bom que se vai, deixando a Cidade mais pobre intelectual e moralmente. O que nos preocupa é a falta de reposição: homens como Odair são cada vez mais raros, hoje em dia. O que nos resta é prosseguir trabalhando e confiando, como ele fez durante a vida, na mais nobre das profissões: a de professor. Professor Dairzão. 



Nunca li nada de Doris Lessing, que também bateu asas hoje, aos noventa e quatro. Nascida no Irã e criada em Zimbábue, vivia na Inglaterra há muitos anos. Lembro-me de sua foto estampada nos jornais quando ganhou o Nobel, chegando da feira –ou do supermercado- com seu improvável, para o momento, carrinho de compras (alguém poderia imaginar a escritora mais galardeada do mundo empurrando um carrinho de feira na fria manhã inglesa?) e fazendo cara de espanto ao ver a multidão de fotógrafos defronte sua casa. Diante da pergunta de um repórter sobre o prêmio, disse: “eu só escrevo, mais nada’. Lá vai Doris, aumentar nosso inventário de perdas irreversíveis.


Há quem diga que é o ciclo da vida. Pode ser o da morte, do qual a vida, necessária e fundamentalmente, é parte integrante.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

BRASIL: MAIS DO MESMO



Benilson Toniolo

Não gostei do tom usado por uma usuária do twitter ao protestar pelo fato de ter sido acordada às sete da manhã de sábado com uma ligação de um presídio – o velho golpe do seqüestro. Tudo bem que o caso é grave e as autoridades brasileiras parecem não fazer o menor esforço para eliminar esta inaceitável prática do nosso cotidiano, mas daí a aceitar que a moça escreva que "o Brasil é um país de merda", já é um pouco demais. Afinal, era só desligar o celular e voltar a dormir.
Não, não chegamos a tanto. Mas vale a pena analisar, ainda que superficialmente, duas matérias destacadas na Folha do mesmo sábado, para que tenhamos uma idéia mínima  do rumo que esta imensa catraia chamada Brasil está tomando –se é que há algum rumo neste oceano interminável de tragédias.
E veremos que, diferentemente do que disse a tuiteira, somos no máximo, no máximo, um grande flato, para ficarmos na esfera gastrointestinal do problema.

O POTÁSSIO É NOSSO
Duas novas jazidas de potássio descobertas na bacia do Amazonas podem ajudar o Brasil a acabar com a dependência externa do produto –ingrediente básico dos fertilizantes. No último ano, o país importou 6 milhões de toneladas, o que representa mais de 90% do consumo total.
Segundo Hélio Diniz, presidente da Potássio do Brasil –subsidiária da canadense Brazil Potash Corporation- ‘as seis minas descobertas têm capacidade para produzir todo o volume consumido pelo Brasil’.
Entretanto, em função do alto investimento necessário para iniciar o projeto de extração (US$ 2 bi), a empresa pretende iniciar a produção somente em 2018.
Sei não, mas tenho a impressão que tem coisa (s) errada (s) nessa história. A responsável pelo potássio em solo brasileiro é uma empresa canadense, que chama para si a responsabilidade  pela extração de um mineral que, afinal, está em solo brasileiro. Ou seja, a independência do país com relação ao potássio está nas mãos dos canadenses. Venderam o solo brasileiro, sim. Mas para quem? Quando? Por quanto? De que forma?
E continuaremos –pois esta é nossa sina- importando milhões de toneladas ao ano daquilo que, em nosso solo, abunda. Pelo menos até 2018, quando muito provavelmente o Brasil passará a considerar a possibilidade de comprar dos canadenses aquilo que está em seu –dele- próprio território. Se é que o território ainda é nosso...

 CARGAS – MELHOR NÃO TÊ-LAS...
Aumentou em 46% o roubo de cargas (preponderantemente, de celulares e computadores) na região de Campinas. A situação é de absoluto descontrole. Os aumentos registrados neste ano são de 700% em Itupeva, 400% em Indaiatuba, 167% em Vinhedo, 150% em Jundiaí, 117% em Valinhos e 67% em Louveira. Ou seja, perdeu-se o controle de forma definitiva do que a bandidagem apronta na região.
Além das conseqüências naturais de uma terra sem lei, quem paga o prejuízo somos nós, os consumidores de bem que não cometem crimes. Porque, se o roubo aumenta, o preço do seguro das cargas aumenta na mesma proporção, o que causa também aumento no preço final do produto. Podemos entender que as quadrilhas agem livremente, o governo permanece na habitual inércia e o consumidor é quem arca com todo o prejuízo. Mas tudo bem, porque nós, os eternos otários, compramos e pagamos em 12 vezes no cartão de crédito, carnê, cheque pré-datado ou boleto bancário -sem juros, evidentemente, como anunciam na TV que, por sinal, ainda estamos pagando- e saímos da loja convencidos de que fizemos um bom negócio.
Mas voltando ao tema: segundo profissionais dos setores de transportes e segurança, a falta de combate à receptação é o principal estímulo ao roubo de cargas.
O comando da PM na região informa que ‘estamos mapeando as regiões e os horários mais críticos e desenvolvendo um serviço de inteligência para combater esse tipo de crime’. Resposta burocrática, protocolar e repleta de gerúndios para informar que pouco ou nada está sendo feito de prático para resolver o problema. Talvez em 2015, depois das eleições para o Governo do Estado...

 EU ME LEMBRO...
Aos poucos, vou entendendo melhor por qual motivo a coluna dominical de Daniel Piza no Estadão chamava-se ‘Por que não me ufano’. Nada mais apropriado.

Falando nisso, que falta faz o Daniel...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A MULHER DAS FOTOS

Benilson Toniolo

Tem uma mulher aí querendo saber se o senhor pode atender, disse a recepcionista.
- Assim, sem marcar horário? Estou no meio da redação de um documento importante...
- Ela disse que é rápido.
- Mas o que é que ela quer comigo?
- Parece que quer mostrar umas fotos antigas...
- Parece que quer ou quer?
- Quer.
- Fotos?
- É, fotos da cidade. Antigas. Quer mostrar.
Ah, a mão-de-obra de hoje em dia... Um bando de despreparados, incapazes de transmitir de forma eficiente um mísero recado.
- Pede pra entrar.
É uma senhora de idade relativamente avançada. Setenta, oitenta anos, talvez um pouco menos, trazendo no rosto as marcas característica da passagem nem sempre agradável destes tantos anos. Baixinha, vestido amarrotado, traz uma bolsa pendurada e, nas mãos, um envelope pardo grande.
Cumprimento com a cortesia de sempre, convido para sentar, ofereço um café –que ela recusa por causa da úlcera nervosa. Puxo papo, pergunto onde mora, se é daqui mesmo e arremato dizendo que a rua que dá acesso ao bairro dela está muito melhor agora do que antes.
Ela concorda com umas coisas, discorda de outras, parece não gostar muito de conversa fiada.
- A recepcionista me disse que a senhora queria me mostrar umas... umas fotos antigas, parece...
- Ah, sim. O senhor quer ver?
Querer, não quero, minha senhora, mas vamos fazer o quê, não é verdade? A senhora já veio, já se fez anunciar, já entrou, já sentou aqui e já me fez parar o que estava fazendo.
Estende o braço, me oferece o envelope aberto, peço licença e retiro uma folha com quatro fotos antigas coladas. Embaixo, está escrito de forma também antiga, com uma caligrafia antiga, a frase ‘lembrança da turma que não quis ficar’, seguida de um número – 1956. Nas quatro imagens em preto e branco, um grupo de pessoas sorridentes faz pose em um lugar que se parece com um morro. Muitas flores, um automóvel, algumas crianças. Umas quinze pessoas, calculo.
- Isso é aqui em Campos?
- Sim, aqui. Minha casa agora é atrás desse morro aí. O segundo.
Permaneço olhando, aproximo as vistas, simulo interesse.
- São seus parentes?
- Não sei. Encontrei numa caixa de minha mãe. Fui procurar umas fotos hoje, e encontrei isso aí.
- Interessante.
Bingo. Achei o que dizer.
- Se a senhora achar que deve, deixe este material comigo, a gente digitaliza e põe no acervo. Seria interessante se a senhora conseguisse identificar quem são...
A mulher está chorando. Não é um choro convulsivo, mas é um choro doído. Curto –por isso, parece, mais dolorido. Tem a mão direita a esconder os olhos. Não quer que eu veja que ela chora. Deposita os óculos sobre minha mesa. Silencio –que é a melhor forma de reagir quando alguém começa inesperadamente a chorar na nossa frente.
- A senhora quer um copo de água? Água com açúcar? Café? Droga, esqueci da úlcera.
- O senhor me desculpe.
- Não, imagina. Posso ajudar em alguma coisa?
Ela se recupera, funga, procura um lenço na bolsa. Anuncia:
- Vou mostrar uma coisa para o senhor.
Outra, meu Deus? O que será agora?
Retira um outro envelope, branco, e tira uma foto de dentro. Me estende. É um homem jovem, de seus quarenta anos, de bigode e cabelos muito pretos, óculos escuros, camisa listrada de branco e verde, calça jeans, em cima de uma motocicleta parada, segurando um bebê. Imagino o pior.
- Quem é?, pergunto.
- É meu filho, doutor.
Não, eu não sou doutor, mas nada lhe digo. Não é o momento.
- Como se chama?
- Augusto. É bonito, o senhor não acha?
- Sim, um sujeito bem apessoado, vendendo saúde. Esta foto também é aqui em Campos?
- É, sim, doutor, lá em casa. Tiramos faz mais ou menos um ano.
- Ah, sim.
Não, não vou perguntar. Se quiser, ela que diga. E diz.
- Hoje é aniversário de morte dele. Quatro meses. Eu não agüento...
Agora chora mais forte. Saio em busca de um copo de água. Volto.
- Toma, bebe um pouco. A senhora tem que ser forte.
- É o que eu tento ser, doutor, mas não consigo. Não agüento mais chorar. Sinto muita falta dele. Depois que fiquei viúva, era ele que tomava conta de mim.
- E ele morava aqui?
- Não, morava em Minas, mas toda semana vinha me ver e trazia o menino.
- Seu neto?
- É, meu neto. Luis Gustavo, o nome dele. Esse aí da foto.
- Mas olha, a senhora tem que agüentar firme. Só tem o Luis Gustavo, de netinho?
- Não, tem uma outra, mais velha, de quinze anos, que faz tempo que não vejo. Do primeiro casamento dele. Mas essa mora longe com a mãe, não vejo quase. E o senhor sabe o que é essa criançada quando chega nessa idade, né, doutor? Não quer saber de pai, de mãe, de avó, de nada. Nem me telefonam, eu é que ligo no final de semana para saber como é que estão as coisas. A mãe dela, então, nem ao telefone vem para falar comigo.
- Mas a senhora vai a Minas, ver o Luis Gustavo.
- Não tenho coragem, doutor. Não tenho coragem. Como é que eu vou entrar de novo naquela casa sem ver meu filho? E são só quatro meses, é muito pouco...
- Mas a senhora tem que ir lá, visitar seu neto, não é verdade?
- Um dia eu vou, mas agora não. Acho que não posso. É que eu só choro, de dia e de noite.
- Tem que reagir, dona...
- Ana.
- Tem que reagir, dona Ana.
Devolvo a foto do filho morto. Ela guarda no envelope menor.
- Eu tento, doutor, mas é tão difícil. O senhor tem filho?
- Tenho, sim, dona Ana. Tenho, sim.
Poupo os detalhes.
- A senhora não quer um café, mesmo?
- Não, doutor, obrigada. O senhor vai ficar com a foto, então?
- Vou, sim. Deixa aqui comigo e pode vir buscar amanhã à tarde.
- Olha, o senhor me desculpe.
Me ocorre a Macabéa, da ‘A Hora da Estrela’.
- Não há o que desculpar, já disse. Está tudo bem.
Vou acompanhando a senhora até a saída. No pequeno trajeto, voltamos a falar da rua, do tempo, da cidade, das atrações.
- Olha, a senhora gosta de Arte?
- Gosto um pouco, sim.
- Então a senhora deixa aí o telefone com a secretária, que quando tivermos uma exposição eu convido a senhora, o que acha? Assim a senhora distrai um pouco.
- Mas essas exposições devem ser à noite, não?
- São, sim, dona Ana, em geral são à noite.
- É que eu não tenho carro. Dependo de ônibus, e lá no meu bairro tem pouco ônibus. Depois, sair sozinha é ruim.
Depois de uma pausa, ela volta a falar.
- E eu não vim aqui atrás dessas coisas.
Fazemos, ambos, um novo, lento e pesado silêncio. E quando percebeu que eu não faria a pergunta que me cabia fazer, ela arrematou.
- Sabe, o senhor lembra muito o Augusto. Eu nunca tinha visto o senhor, nem o senhor nunca tinha me visto. Mas um dia eu passava na rua, distraída, quando ouvi uma voz atrás de mim. Estremeci, porque eu tive a clara impressão que era meu filho Augusto falando. E parecia que ele falava comigo. E na hora me deu uma felicidade tão grande, tão maravilhosa, que o senhor não pode fazer idéia. Para mim, era como se ele não tivesse morrido, como se ele estivesse ainda aqui, e tinha me visto na rua, e tinha falado comigo. Então parei e fiquei esperando a voz aparecer de novo. E aí vi o senhor parado há alguns metros de onde eu estava, conversando com uma moça. O nome dela era Ana, pelo que eu vi. E aí o senhor falou de novo, e eu vi que não era o meu filho Augusto. Aí eu vi que era o senhor. E aí eu sofri muito aquela hora, doutor, porque era o senhor falando, e não ele. E quando cheguei em casa eu desabei a chorar de novo, porque eu já tinha prometido pra mim mesma que eu não ia mais chorar pela morte dele, e que eu ia ser forte e continuar vivendo a minha vida. Mas aí veio a sua voz. Por isso vim aqui. Para ouvir a voz do meu filho de novo.
Dona Ana parou de chorar. Até sorriu um pouco, enquanto contava sua história de amor a uma lembrança e a uma voz. Tinha mudado. A mulher que se despediu de mim com um aceno e um meio sorriso era muito diferente da que havia entrado, dois quartos de hora antes. Prova disso é nosso último diálogo.
- Dona Ana, como é que a senhora me descobriu aqui?
Ela olhou pra baixo, sorrateira, carinha de menina quando faz arte.
- Essas coisas a gente descobre, meu filho. Mulher, quando quer, descobre até o que não existe.
E saiu, prometendo voltar no dia seguinte para buscar seu envelope e ainda outras vezes, ‘pra gente prosear’.
Por fim, e uma vez que eu não era mais o ‘doutor’, e sim ‘meu filho’, acompanhei sua saída com o inevitável amuo dos olhos e do coração. Voltei à sala, retirei novamente a foto antiga do envelope e chamei a recepcionista: ‘escaneia isso aqui pra mim, por favor’.

A redação do documento importante teria que esperar até o dia seguinte.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O ANIVERSÁRIO DE DONA CIDA

Benilson Toniolo

Hoje dona Cida faz aniversário. Noventa anos, se não me engano. Há seis, foi-se embora a bordo do segundo AVC que lhe acometeu, assim, à surpresa. Ninguém esperava. Tinha sofrido o primeiro, alguns dias antes.  Estava com a filha no médico, no pronto-socorro, quando o segundo golpe a derrubou. Fatal.
Sim, ela faz falta. Com suas manias, suas histórias, seus exageros, suas verdades inventadas, ela faz falta. O que mais me chamou a atenção quando de sua partida foi a quantidade de pessoas com quem eu me encontrava na rua que, falando dela, diziam: ‘ela me ajudou muito’. E desatavam num choro sentido.
Tinha muitas amigas, todas leais. Dona Cida as ajudava quando podia, e quando não podia também. Quando a família desconfiava que ela exagerava nos ajudatórios, ela tratava de inventar uma história tão triste a respeito da situação do ajudado, que ninguém podia falar nada. Ser cristão é ajudar a quem precisa, não é? Então, pronto. Vai reclamar com Nosso Senhor, que a ordem quem deu foi ele.
Na ceia de Natal, convidava gente que nem todos da família conheciam. O que perdeu a mãe havia pouco tempo. O sem emprego. O moço que se livrou das drogas e que agora estava na igreja. A que o povo dizia que tinha roubado a bolsa da comadre. A mãe da irmã do pai da inquilina nova da vizinha. O moço que acabara de sair da cadeia, onde cumprira pena por homicídio. Um coração como não se vê mais hoje em dia. O povo estranhava.
Nos últimos tempos, e durante muito tempo, era crente. Evangélica, de duas ou três igrejas. Mas conhecia as rezas. As coisas do metafísico. Sabia o que tinha do outro lado. E era feio. Por isso sua vida era uma louvação atrás da outra. De joelhos, orava e pedia perdão. Iletrada, pedia aos outros que lessem para ela as revelações contidas na Bíblia. Queria ensinar os outros como era bom seguir ao Jesus que ela cria. Os netos lhe ofereciam beijos na chegada e na partida de casa. No meio disso, era o alheamento.
E quer saber mais? Ajudava os velhinhos do asilo. Toda semana. Durante muito tempo. Depois parou. Canseira.
Foi caseira, muitos anos. Cozinhou, passou, lavou, arrumou, consertou. Vendeu roupas usadas na garagem, até que a prefeitura lhe mandou uma cobrança adicional no imposto por conta de uma placa que mandou botar na frente de casa. Foi santa, não. Se engana quem pensar. Nessa vida nossa, ninguém é.
Mas viver, viveu. E  como. E viveu bem. Viu, ouviu e falou muita coisa.
O enterro foi como queria. Na igreja. Coisa simples. Muita gente.
E, até hoje, diante de certas situações mal-explicadas, o povo da casa vaticina: ‘queria que ela estivesse aqui pra ver’.
Hoje faz aniversário. Vinte e oito de outubro. E é seu vulto que vejo descendo a escada da casa, sua roupa simples e seu jeito simples, parando no final da jornada, olhando pro céu e comentando por comentar: ‘vou molhar as plantas’.

Então, mando aqui meu abraço, minha velha. Feliz aniversário, dona Cida Café.

EU, O ELITISTA



Benilson Toniolo

O sujeito me chama de elitista. Diz que acha interessante me ver no bairro popular em meio aos ‘pobres’ –o termo é dele, não zanguem comigo. Diz que eu só conheço o povo através das aulas de Sociologia e dos livros. Não disse a mim diretamente, mas disse a outrem. Então, dou risada –o que mais posso fazer?
Meu pai foi um alagoano retirante, fugido da seca, da fome e da sede do sertão. Veio com a mãe, recém viúva, e uma montoeira de irmãos em pau-de-arara. Chegou em Santos e ficou. Foi analfabeto até a fase adulta quando, já casado, aprendeu a ler praticamente sozinho. Fez curso de eletrônica por correspondência no Instituto Universal Brasileiro, e varava as noites tentando decifrar os inúmeros manuais de tevê para consertar aparelhos de televisão inconsertáveis (se me permitem o neologismo) dos fregueses (na época, não se dizia 'clientes'). Foi servente de pedreiro, ajudante de barbeiro, dono de boteco e de loja de conserto de televisão e rádio, e por um tempo teve ponto de jogo-de-bicho. Foi proprietário de um Aero-willys, dois fuscas e um Dodge Polara amarelo. Quando morreu, há onze anos atrás, tinha acabado de ler Dostoiévski. Devo a ele minha paixão pela leitura. Minha mãe, santista filha de europeus, quando menina ajudava na pensão da avó, amanhecendo entre panelas, caçarolas e pias cheias de louça suja para lavar. Durante toda a vida, e até poucos anos atrás, passava roupa e costurava para fora, para ajudar nosso pai no orçamento de casa. Nunca reclamou. Foi fiel a ele e a nós, e assim é, até hoje.
Moramos na Vila Margarida e Parque Bitaru, em São Vicente, antes de nos mudarmos para a casa do tio Aldo, na Santa Rosa, no Guarujá.
Desde os doze, nosso pai nos levava para ajudar no bar. E lá ficávamos servindo bêbados, maconheiros, pescadores, jogadores de sinuca, gente boa e gente ruim.
A Santa Rosa era só lama, na época. Não tinha asfalto. O 'conga' que nos levava à escola era o mesmo dos passeios de domingo na casa dos primos.
Quando eu tinha quinze anos, meu pai adoeceu gravemente de uma duodenite seguida de tuberculose, e muita gente achou que ele não escapava. Escapou. Daquela feita, minha irmã me arranjou emprego de Office-boy num escritório de advocacia no centro de Santos para ajudar em casa. Saía do Escolástica Rosa, a melhor escola pública de Santos na época (que instituía uma prova chamada de 'vestibulinho' para poder receber e classificar tantas solicitações de matrícula de candidatos a alunos da Baixada inteira) às 12:35h, tinha que entrar no trabalho às 13h e fazia meu almoço no ponto de ônibus, torcendo para que o coletivo não demorasse, mas que me desse tempo de não ter que subir segurando a mochila, o misto frio e a lata de fanta laranja. Descia na Praça Mauá, ia para o escritório na Rua Riachuelo, catava um monte de processos, subia a Amador Bueno e ia para o fórum, checar o andamento dos processos. Era o ano do primeiro colegial, o atual primeiro ano do Ensino Médio, no qual fui reprovado. Química e Física. Fui para Conselho de Classe precisando de um ponto em Matemática para poder fazer a recuperação nas duas matérias. Não me deram o ponto. Bombei direto, como se dizia na época. Tive anemia e fui mandado embora do serviço. Foi a primeira vez. Viriam outras.
Entrei na faculdade de Hotelaria já em Campos do Jordão aos trinta e três anos, quando Bruno tinha três e, Leonardo, acabado de nascer. Antes disso, fui auxiliar de serviços gerais e vigia noturno, vendedor de curso de inglês, bancário (minha mãe tem saudade desse tempo até hoje), cobrador de consórcio, ajudante de copiadora, comerciante falido, gerente de clube. Tive uma carreira bonita na Hotelaria. Carreguei muita bagagem, dobrei serviço, tive que pagar diferença de caixa do bolso. Fui gerente de flat, conheci o Nordeste, morei em S. Paulo e passei alguns meses no Centro-Oeste.
Meu melhor carro é um Gol 2007, que é o atual, financiado em 48 meses. Antes dele, um outro Gol 1997 e dois fuscas caindo aos pedaços –na verdade, dois heróis que me tiraram de muitas enrascadas e me conduziam ao Pronto-Socorro nas frias madrugadas de Campos do Jordão, quando os meninos tinham alguma coisa -uma dor de barriga. Criança, como vocês sabem, é louca pra ter dor de barriga.
Uma vez, há muitos anos atrás, eu tinha muita dor de cabeça, e um médico que tinha consultório ali na Conselheiro Nébias disse que eu tinha aneurisma, que podia morrer a qualquer momento. Isso faz muito tempo. Viciei em dorflex. Mas como estou aqui até agora, desconfio que não é disso que me fino.
Neste momento, escrevo na escrivaninha da casa que eu e Simone financiamos. Trinta anos. A casa é nossa, portanto, desde que paguemos todas as mensalidades.
Escrevi nove livros. Tem mais um ou dois em andamento. Falo três idiomas, além do português. Pertenço a algumas entidades literárias e ganhei dezenas de prêmios. Faço palestras e traduzo livros do italiano para o português. É só ter tempo. Não me considero escritor, e apesar de minha formação –que considero pífia- acho que acertei quando resolvi não abandonar a literatura. E, como disse Borges, acho que o que li é mais interessante do que o que escrevi. Porque ler a gente lê o que gosta, e escrever, escreve só o que consegue.
Tenho muito a agradecer a Deus, principalmente pela mulher que Ele me deu por esposa e pelos viventes que me deu como filhos. Pela minha mãe que permanece forte e inquebrantável –um porto seguro garantido para quando a nau perder o rumo.
Minha história não é melhor nem pior que a de ninguém. São estas lutas que nos constroem e fazem a vida valer a pena.
E, o que é mais interessante: nunca tive aula de Sociologia.
Mas elitista, meu prezado amigo, com todo respeito, é a digníssima puta que o fez vir à luz.



sábado, 3 de agosto de 2013

DE VOLTA PRO ACONCHEGO




Depois deste episódio magnífico do ‘Milagre de Santa Luzia’, fico aqui pensando como será o céu dos artistas nordestinos. Mas os genuínos, aqueles que honraram verdadeiramente o legado que receberam da terra esturricada e do salitre dos mares esverdeados. Aqueles que foram fieis à sua história e à sua incalculável cultura. Neste céu não entram, obrigatoriamente, os cantores do Calypso nem do É o Tchan, além de outros do gênero. Mas entram os ‘meus’ nordestinos.
Imagino Dominguinhos, então, entrando nesse lugar que Deus há de ter preparado para que se pudessem juntar, na eternidade que lhes é devida, todos os seus pares, os que se foram há pouco, os que se foram há muito tempo, os que não foram ainda. Porque Deus deve ter essa competência e essa sensibilidade, de separar no paraíso um lugar privilegiado para essa gente que nasceu sob o signo da arte e da luta desmantelada pela sobrevivência. 
Dominguinhos deve ter chegado lá com a sanfona colada ao peito, numa osmose que se desenvolveu desde a infância. Com seu imenso sorriso, com sua voz baixa e grave, com sua cabeça chata, seu chapéu de bosta de rola, suas alpercatas, seu andar desengonçado.
E lá deviam estar a lhe esperar o Velho Lua, o Sivuca, o Patativa, e tantos outros. E lá no fundo seu velho pai, discreto, calado e distante, do jeito mesmo que é o jeito dos nordestinos sertanejos, os homens fortes e bravos do Nordeste brasileiro.

Assim como o seo Benício, do mesmo-jeito-mesminho, me há de me receber um dia.

domingo, 7 de julho de 2013

GASTRONOMIA E MÚSICA: UMA POSSIBILIDADE DE CRESCIMENTO E RIQUEZA

Mais do que a satisfação de uma simples necessidade fisiológica, o ato de comer, ao longo da história da raça humana, se transformou em uma ocasião de encontros entre pessoas.
Tudo muito diferente do pecado inicial, que se deu exatamente através da gula. Ou seja, se o mundo é o que é hoje, isto se deve exclusivamente ao ato de... comer. Claro que há outras implicações, digamos assim, e que levaram a pobre Eva a experimentar do fruto proibido, mesmo contrariando a instrução de Deus –que, convenhamos, não tinha nada que sair por aí criando uma fruta da qual não se podia saber o gosto.
Reunir pessoas em volta de uma refeição, entretanto, virou característica da condição humana. Certo, não somos os únicos animais que compartilham a comida com os outros da mesma espécie. Mas a verdade é que, ao longo do tempo, compartilhar a mesma comida tornou-se um hábito humano carregado de ancestralidade e simbolismos, e que se constitui em uma prática que, a cada dia, procuramos manter e, por que não dizer, aperfeiçoar.
Das refeições feitas por Cristo –que, é bom que se diga, vivia filando uma bóia na casa dos outros, e consta que gostava muito de se dedicar aos prazeres gastronômicos, chegando inclusive a multiplicar os peixes para que seu povo não sucumbisse à fome- aos indefectíveis churrascos dos dias de hoje, a gastronomia está para o homem como o dia para o sol: um não existiria sem o outro.
Ao longo dos tempos, foi ao redor de uma mesa, no compartilhamento de uma refeição, que impérios e países foram criados e dizimados, que se decidiu o futuro de gerações inteiras, que se optou por miséria e bonança, amor e ódio, nascimentos e homicídios, descobertas científicas e tragédias absolutamente estarrecedoras. Tudo porque, ao redor desta mesma mesa, entre mastigações, conspirações, descobertas de amor e arrotos disfarçados e explícitos, o homem dá de si aquilo de que é composto: os vícios e virtudes de sua condição.
Isso tudo porque, além de ser uma necessidade, comer é um ato de prazer que, mais notadamente nos últimos tempos, tem proporcionado ao homem a descoberta de uma gama de sensações que, por muito tempo, permaneceu senão desconhecida, mas pouco valorizada. Combinar sabores, cheiros, texturas, cores e sensações tem se constituído em uma das principais atividades presentes no cotidiano do homem moderno.
Cursos especializados despejam semestralmente no mercado de trabalho milhares de profissionais cuja maior especialidade é a de, através da imaginação e da criatividade, satisfazer de seus clientes somente um  desejo: o de se deixar surpreender. Nisto, e apenas nisto, no prazer da descoberta do novo, é que se caracteriza este ato, até então simples, de apenas satisfazer uma necessidade fisiológica. Comer, hoje, é sinônimo de bom gosto e status social. Você é o que você come.
Nesse sentido poderíamos dizer que a gastronomia virou arte. Mas não: a gastronomia se consolidou como arte, e como tal é reconhecida. E, e seus executores, verdadeiros artistas.
E partimos da sua elaboração para identificá-la desta forma. A imaginação do artista está presente na criação do prato, na escolha dos ingredientes, nos detalhes da receita (haverá estilo literário para isto?), no conhecimento da temperatura ideal dos equipamentos onde os alimentos serão preparados, no espaço (a cozinha, o palco) onde terá lugar a sua representação e a dos demais atores, e o momento final: de apresentar ao público a sua arte, no afã de ter descoberto o novo, o excelente, o surpreendente, o definitivo. O desafio do artista é o da superação. Nisto reside sua vida e seu trabalho.
Eis a cozinha, comparada a uma orquestra.
O maestro carioca John Neschling vaticina, em seu livro ‘Música Mundana’: “Não há ‘mais ou menos’ quando se trata de qualidade artística, e, portanto, não pode haver ‘mais ou menos’ na concepção e realização da Arte’.  É portanto neste momento que gastronomia e música se assemelham e se completam. Na elaboração da arte, no bom gosto, no preparo e na entrega do artista ao seu ofício, na satisfação do público e no seu desejo de voltar a consumir, numa outra oportunidade, o resultado deste trabalho.
Aí deixamos de desenvolver, então e somente, uma relação artística. Passamos a entender a gastronomia e a arte como uma troca que se dá, também, em linhas de comércio, uma vez que há quem a produza e, da mesma forma, há quem a consuma. Logo, temos uma troca capaz de gerar desenvolvimento social (através da formação profissional) e, por conseguinte, emprego e renda, fomentando o turismo segmentado (composto por um público amante e consumidor de Arte e Gastronomia) e proporcionando ao município a imagem de gerador de um produto diferenciado e de qualidade.
É possível pensar na tomada de ações por parte das iniciativas pública e privada no sentido de elaborar projetos comuns que abram esta vertente à economia local. O planejamento deve ser cuidadoso e priorizado na base, através da formação de bons profissionais, culminando com o estímulo ao seu desenvolvimento contínuo. Da mesma forma, pode-se avaliar a possibilidade de conceder incentivos aos empresários do ramo para que segmentem suas atividades, especializando seus estabelecimentos em diferentes nichos específicos e possibilitando ao consumidor final uma variada gama de opções, sempre de altíssimo nível e com valores de aquisição condizentes com o mercado internacional de alta gastronomia. Em paralelo, é fundamental o papel da propaganda e da mídia.
Uma vez que a relação música-gastronomia está completa, nada melhor que ambas se correlacionem continuamente, não através de ações isoladas como, por exemplo, festivais pontuais, mas com uma programação permanente e diferenciada, que caracterizam o destino turístico como referência em qualidade tanto nos produtos oferecidos quanto nos serviços prestados. 
Tudo isto demanda empenho e trabalho, características fundamentais para a criação de novas possibilidades de crescimento e riqueza.

Porque, como já nos alertou Neschiling, na Arte como nos negócios não existe ‘mais ou menos’.

Benilson Toniolo

domingo, 9 de junho de 2013

DOMENICÊNCIAS

O discurso democrático e libertário dos gurus da internet é só isso: discurso (Jaron Lanier)

À hora a que me disseram que tinhas morrido, ainda não havia estrelas. Ainda não havia noite para te chorar –e é à noite que eu choro. Não fui ao teu enterro. Não me apoiei nos outros em frente ao teu caixão para te chorar. Não te chorei. Não fui a tempo –e há um tempo para isso. Não te vi a subir a uma estrela, não te vi a rir lá de cima –porque, mais uma vez, eu estava atrasado. Cheguei a casa e fui procurar as tuas fotografias, as fotografias da nossa viagem. Guardei-as dentro de um envelope grande no qual escrevi “Sahara, 1987” e meti-as dentro de uma gaveta, num armário. Desde então, mudei algumas vezes de casa, mudei até de vida outras vezes, e as fotografias continuaram sempre dentro desse envelope, na gaveta, no mesmo armário. Vinte anos. Só ontem é que voltei a vê-las. Só ontem é que percebi que tinhas morrido.

Este, o belíssimo final de ‘No teu Deserto’, de Miguel Sousa Tavares, que Simone terminou de ler na noite de ontem, e que ela definiu como ‘muito bonito’. E é mesmo. Uma avaliação destas, vinda de Minha Luz, é um elogio e tanto. Se um dia eu conhecer o autor, contarei a ele.

Caio Dib é um jovem brasileiro de 22 anos que atravessa de ônibus as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste em busca de conhecimento sobre o que está realmente sendo feito pela, e na, Educação brasileira. Já gastou até o momento seis mil reais do próprio bolso, e acredita que vai ter que desembolsar mais, pelo alcance e pela dimensão do que tem encontrado. Tem grana e tempo livrem, pelo jeito. Bom. Visita escolas, conversa com diretores e professores, bate papo em hotéis, rodoviárias, padarias, praças, ônibus, sempre sobre o mesmo assunto: educação. Descobriu grandes pérolas, como o fato de algumas escolas do Ceará terem já atingido resultados que estavam para ser alcançados, pela previsão inicial, em 2020. Seu objetivo é, encerrando a ‘turnê’, escrever dois livros. Diante deste, não tenho dúvidas em afirmar que Caio Dib é hoje uma das pessoas mais preparadas para assumir o Ministério da Educação. Caio Dib para Ministro, já! E olhe que ele nem precisa de mesa, nem de gabinete, de assessor, para saber mais de Educação do que aquele que atualmente ocupa a Pasta. É só botá-lo dentro de um ônibus. O resto -e o que é o mais difícil de encontrar- ele já tem, e de sobra.

Deu na SIC: representantes dos setores público e privado do Brasil invadiram Portugal em busca de profissionais qualificados para trabalhar aqui. Vale tudo: engenheiro, eletricista, médico, dentista, professor, arquiteto, decorador, o diabo. Falta de investimento em educação costuma dar nisso: remete sempre a atraso e prejuízo. Fica bem mais caro buscar profissionais lá fora do que formá-los aqui dentro. Com o agravante que, certamente, grande parte deles deve voltar rapidinho para casa tão logo a situação por lá se normalize. Afinal, é sempre melhor estar em casa própria que na dos outros. Mais ou menos assim: ‘vou ali no Brasil ganhar um dinheirinho, que aqui anda em falta, e volto’. Sim, ainda somos colônia.

Para quem, como eu, pouco ou nada sabe de política econômica, sugiro o artigo de Vinicius Torres Filho, no Mercado de hoje, intitulado 'Tomates, Ônibus e Jeitinho'. O autor discorre com muita propriedade sobre a situação econômica brasileira, de Lula aos dias de hoje, e arremata: ‘se o governo fosse arrumar a casa para valer, haveria choro e ranger de dentes. Na melhor das hipóteses, porém, vai dar apenas uma varrida nas bobagens piores que fez. Talvez o ajuste venha em 2015, sob Dilma Rousseff ou outro encarregado. E assim vamos levando a nossa vida medíocre, com jeitinho’.

Quando os gestores se omitem, sobra para o mais fraco. No que diz respeito à violência, chama a atenção a matéria sobre os seguranças privados que são contratados por escolas e faculdades paulistanas para atuarem na via pública –o que, como todo mundo devia saber, é atribuição do Estado. Segurança privada, em geral, trabalha intramuros, com exceções dos casos de serviços específicos autorizados e supervisionados pela Polícia Federal. A função destes trabalhadores que atuam nas ruas em voltas das escolas é comunicar a uma Central a existência de suspeitos que representem algum tipo de perigo para os estudantes durante a entrada e saída das aulas. Na matéria, tanto a Escola quanto as empresas contratadas alegam desconhecer o assunto, e que estes trabalhadores não são seguranças, e sim apenas observadores. Até que aconteça o primeiro homicídio envolvendo algum deles, que serão enterrados com razoável dificuldade financeira, sem honras militares e tendo ao fundo as declarações de ‘lamentamos o ocorrido...’ que devem pronunciar as escolas, que não sabiam de nada, e as empresas de segurança, que pensavam que não era bem assim e provavelmente dirão que o funcionário morto não 'compreendeu a instrução passada por seus superiores'.

Mais um artigo, desta vez o de Clóvis Rossi, sobre o fato de o FMI ter admitido, ainda que subjetivamente, que cometeu um erro no programa econômico imposto à Grécia. Clóvis cita o artigo do líder grego Nigel Farrage, no The Telegraph, que diz que ‘a Grécia foi sacrificada no altar de uma fracassada experiência do euro, sua comunidade de negócios dizimada, suas famílias levadas à penúria, sua taxa de suicídio furou o teto (subiu mais de 40% no período da crise). O desemprego quadruplicou, o desemprego juvenil está em 64%. Sonhos foram destruídos, o futuro hipotecado – e as esperanças deixadas apodrecer em campos de oliveira não cuidados’. Um final poético e melancólico, afinal, posto que, como sabemos, aceita tudo esta egípcia invenção chamado papiro (pelo menos assim nos ensinou o Ettore Quaranta, em 1982, no Santa Rosa). Se essa não é uma descrição de genocídio social, já não sei definir o que é genocídio social. Isto quem diz não sou eu. É o Clóvis. Santo papiro.

Moreira Franco, sociólogo e Ministro da Aviação Civil, põe a culpa dos problemas aeroportuários no Brasil na ditadura, na burocracia (necessária para conter gastos, segundo ele) e, acreditem, em São Pedro. Imagina na Copa. Ah, sim, e pede desculpas pelos passageiros que tiveram problemas no Santos Dumont, na última semana. Traduzindo: não adianta reclamar deste problema. Passemos a outro imbróglio, portanto, que para este, da forma como hoje se apresenta, e segundo o Ministro, não há solução.

O Ferreira Gullar de hoje está para colecionador. Se não, vejamos: ‘meus poemas nascem do espanto, de algo que põe diante de mim um mundo sem explicação’. Este, vai para os guardados.


Xico Sá, de novo: ‘homem que é homem não sabe,  e nem procura saber, a diferença entre estria e celulite’.