Benilson Toniolo
Vinha eu da feira de sábado a
cortar caminho por dentro do Mercado, quando avistei ali no Pesquinha, tomando
um café e assuntando o acervo do Livro Livre o José Soromoço, carioca de boa
cepa, filho de pai português e recém-chegado a Campos do Jordão. José é
torcedor fiel da querida e estropiada –com o perdão do adjetivo, mas é bem isso
mesmo- Portuguesa de Desportos. E do não menos estropiado e sempre glorioso Clube
de Regatas Vasco da Gama.
E como as sacolas estavam
pesadas e eu estava de ônibus, parei para uma prosa com o José. E sapequei: e a
Copa, Zé? Você acha que a Seleção leva essa?
- Olha, eu até gostaria muito,
mas não vai dar pra gente não.
Estranhei aquele pessimismo
todo. Não que o José fosse um exemplo de otimista, mas daí a tirar nosso
escrete da parada logo assim, na primeira abordagem, era um pouco demais. Devia
ser a má fase dos seus times do coração que estava deixando meu amigo portuga tão
aborrecido. Pedi explicações, e ele as deu:
- Pra começar, não temos
goleiro. Esse Julio Cesar aí já deu o que tinha que dar. Saiu da Inter de Milão
porque já não dava mais no couro. O sujeito joga no campeonato canadense, onde
é que já se viu uma coisa dessas?
Nem precisei perguntar quem o
José levaria para ser nosso ‘guarda-redes’.
- O Fábio do Cruzeiro, o Vitor
do Atlético Mineiro, o Fernando Prass do Palestra. Qualquer um, menos o que
vai.
A coisa ia mal. Nem o
Jefferson do Botafogo?
- Isso aí não é goleiro de
seleção. Pra esquentar banco, serve até o Rogério Ceni. Que aliás até poderia
ser convocado para receber uma espécie de homenagem, digamos, pelo conjunto da
obra.
Mas a zaga inspira confiança, você
não acha?
- Não, não acho. Tem que ter
zagueiro botinudo. Os dois meninos, o cabeludo e aquele que era do Fluminense, só
querem jogar bonito, matar no peito. Zaga tem que ter um zagueiro técnico e
outro pra dar porrada. Nesse time ninguém dá porrada. É tudo Luís Pereira.
Mas os laterais são bons...
- São. Quer dizer, às vezes. Apoiam
bem e têm velocidade. Mas são mascarados. Estão mais preocupados com o
guarda-roupas e com a qualidade da água mineral que passam no cabelo do que em
ganhar a Copa.
Aquele papo do portuga ia me
deixando com a pulga atrás da orelha. Tem o Hulk, Zé.
- Nesse eu boto fé. Tem força,
velocidade. Só que é grosso. Tecnicamente muito pobre.
Mas o Neymar...
- Nem me fale. Copa das
Confederações é uma coisa, Copa do Mundo é outra. E está machucado. E o pai
dele falou nessa semana que o menino está ‘triste’. Me diga você uma coisa. Jogador
de futebol tem motivos para estar triste? Só em caso de queda de avião, doença
contagiosa ou morte em família. O Neymar, triste?
Ah, Zé, mas o Felipão...
- Ultrapassado. O Felipão não
é o mesmo de doze anos atrás, quando ganhou o penta. Ninguém é o mesmo depois
de doze anos. É o mesmo discurso, os mesmos métodos e a mesma forma de pensar
de 2002.
Guardei o trunfo para o final:
a torcida brasileira.
- Torcida não ganha jogo. Ela
reage de acordo com o que o time faz em campo. Torcedor de Copa, que tem grana
pra pagar uma fortuna por um ingresso, não é igual ao torcedor de todo dia.
Torcida de seleção vai pra ver o jogo. Torcer é ocasional. Se o time vai bem,
ela aplaude. Se não, ela se cala. Estou mais ansioso para ver a hora de tocar o
hino nacional. Aí vai ser lindo. Mas depois, é só um jogo de futebol.
Bom, se o Brasil não leva o
caneco, então...
- O Brasil, na minha opinião,
chega em terceiro. Vai cair na semi, e provavelmente nos pênaltis. Meus
palpites para o título, pela ordem: Alemanha, Espanha e Argentina. O fiasco
deve ser a Itália. A surpresa, o Japão. E pode dar uma zebra...
Que zebra, Zé?
- Ah, você vai ver só... Se a
juizada deixar, você vai ver só...
E foi saindo, dando um
tchauzinho e ajeitando a boina sobre a calva. Uma figura, esse Zé. Gente boa,
mas deve estar meio chateado por causa dos problemas da sua Lusinha com a CBF,
e quer descontar na nossa seleção canarinho. Agora, posso até estar enganado,
mas aquele sorrisinho de despedida dele me pareceu estar meio colorido, meio
esverdeado, meio encarnado...
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