Benilson Toniolo
Quem pensa que torcedor de
Copa do Mundo é igual ao torcedor diário, cotidiano, que acompanha seu time o
ano inteiro, está equivocado. Apesar de o esporte ser o mesmo, ambos são muito
diferentes.
Torcedor comum veste a camisa
do time do coração, no mínimo, uma vez por semana.
Torcedor de Copa, só de quatro
em quatro anos.
Torcedor comum assiste ao
maior número possível de programas esportivos.
O de Copa, só sabe de alguma
coisa pelo Jornal Nacional.
O comum calça, quando muito,
um tênis usado –isso quando não é o chinelo de todo dia.
O de Copa compra um tênis novo
com as cores da seleção brasileira.
O comum tem a tabela do
campeonato que seu time disputa na ponta da língua – e mais a classificação,
resultados que lhe interessam, tabela de artilheiros e contra quem precisa
torcer.
O de Copa consulta a tabelinha
que baixou no celular sempre que se lembra que futebol existe.
A última coisa que o torcedor
comum pensa quando está indo para o estádio é se vai chover ou não.
O de Copa consulta a
meteorologia e, na dúvida, compra capinhas de plástico para se proteger em caso
de não conseguir ingressos para a área coberta.
A camisa do time que o
torcedor comum usa, geralmente, está com algumas manchas: de cerveja, da
gordura do churrasquinho de gato, do giz da sinuca, e amassada de tanto abraçar
desconhecidos na hora do gol.
A do torcedor de Copa é
geralmente comprada no shopping e aguarda na gaveta para ser usada no jogo de
abertura, e nos outros jogos que virão.
O torcedor comum não suporta o
Galvão Bueno e detona o Neto.
O de Copa canta a musiquinha
da Globo e não sabe quem é o Neto.
O torcedor do dia-a-dia estremece
sempre que, nas noites de quarta-feira em que a televisão não está transmitindo
o jogo do seu time, surge a bolinha e o barulhinho avisando que ‘tem gol na
rodada!’, e beira uma síncope quando o narrador anuncia que é ‘gol importante e
que muda a classificação’.
O torcedor de Copa, ao ouvir o
barulhinho, acha que é do celular de alguém avisando que chegou mensagem.
Torcedor comum torce pelo
Brasil, sim, mas não vê a hora de a Copa acabar pra continuar o Campeonato
Brasileiro.
Torcedor de Copa é capaz até
de chorar se o Brasil for eliminado.
Torcedor comum parte do
pressuposto de que todo juiz é ladrão.
Torcedor de Copa gosta de
comentar cada lance do jogo com os presentes, como se só ele estivesse
entendendo alguma coisa do que se passa no gramado.
Torcedor comum sabe de cor
todas as musiquinhas e coreografias das organizadas.
O de Copa baixa no celular a
música-tema da Coca-Cola.
Torcedor comum compra jornal
às segundas e quintas –menos quando o time perde feio.
Torcedor de Copa dá uma
passada rápida pela página de esportes, quando em geral já leu o jornal
inteiro.
Torcedor de Copa acha que, se
o Brasil perder a Copa, a Dilma perde a eleição.
Torcedor comum, em geral, não consegue
estabelecer ligação entre uma coisa e outra –no que não deixa de estar certo –ou
errado.
Ambos, entretanto, e em linhas
gerais, torcem para a mesma coisa: que independente de Copa, ou de campeonatos
regionais, ou nacionais, ou continentais, ou interplanetários, não é possível
que um país dependa do resultado de um jogo de futebol para recuperar sua
auto-estima e celebrar seu patriotismo.
E concordam que, com Copa ou
sem Copa, coisas muito erradas estão acontecendo e precisam ser urgentemente esclarecidas e
solucionadas.
Neste ponto, não importa como um
e outro torçam: o que importa é agir para que chegue logo o dia em que não precisemos
de um campeonato para lembramos que somos um País.
E que o futebol –que, no fundo
é só um jogo, por mais apaixonante que seja- não tem nada a ver com isso.
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