Sou um sujeito, como diria
meu pai, meio fuçado. Não é questão de ser isso ou aquilo, esses rótulos que
existem por aí e que as pessoas procuram o tempo todo impingir aos outros. Mas
é que sempre gostei de ler notícias de jornais e revistas de outros países, e
de preferência na língua deles. Entretanto, como meu inglês é mais pífio do que
o de muito aluno de nono ano de escola pública, recorro a outras línguas que,
consideradas minhas limitações, me são menos complicadas, posto que latinas,
para poder lê-los.
Então ocorre que, em determinadas ocasiões, começo meu dia acessando sites
de jornais em língua italiana ou espanhola, além dos periódicos portugueses. Me
faz um bem danado. Exercito meus parcos conhecimentos dos idiomas, me atualizo
sobre o mundo através de olhares distintos daqueles com os quais estou
acostumado e, claro, aprendo um monte de coisas novas. A geografia destes
países, por exemplo, me atrai muito, além das notícias de cultura.
E foi justamente através desses "olhares estrangeiros" que
observei no último domingo que, em cada um dos cinco jornais sobre os quais
passei os olhos, havia notícias sobre o Brasil, que gostaria de compartilhar
neste espaço.
No italiano Corriere Della Sera, por exemplo, o escritor Roberto Saviano
-autor do polêmico livro Gomorra- declarou que o Brasil é o único farol
confiável a apontar para o futuro do mundo, e que é incrível como uma
ex-colônia de pouco mais de 500 anos se tornou uma potência para onde se
dirigem as atenções de todo o planeta.
No La Stampa, alunos de uma faculdade de Nocera Superiore responderam em
uma pesquisa que, se tivessem que emigrar para qualquer país do globo, era para
cá que a maioria gostaria de vir, pelo clima, pelos atrativos naturais e pelas
possibilidades de trabalho e crescimento profissional.
O espanhol El País chamava atenção para o caso do Mensalão, que eles
chamaram de "O Julgamento do Século". Dizem eles que
somente em uma nação soberana, democrática e de sólidas instituições
constituídas pode haver lugar para um acontecimento tão relevante, e de curso
tão pacífico -verdadeiro exemplo a ser seguido pelas demais democracias do
mundo.
No português Diário de Notícias, o destaque era o segundo turno das
eleições em 50 cidades brasileiras, transcorrido de forma harmoniosa e
equilibrada -apesar da obrigatoriedade do voto.
Por fim, o também lusitano Público destacava a realização da Feira do Livro
de Frankfurt, que nesta edição homenageia a literatura brasileira, abrindo
espaço não somente para nossos escritores consagrados como também para o que
tem a dizer a nova safra de escribas tupiniquins.
Refletindo sobre o que li, me ocorreu um pensamento de Millôr Fernandes,
notável intelectual recentemente falecido: "Se você chegar a um país e
quiser saber da liberdade política que têm seus cidadãos, basta ler os jornais
desse país. Se dizem que o governo é admirável, seus mentores maravilhosos,
dignos e capazes, é porque os governantes são déspotas que
liquidaram com a liberdade de expressão. Agora, se os jornais dizem
que os governantes são incapazes, hipócritas e estão levando o país à ruína, o
país está, pelo menos politicamente, muito bem".
A verdade é uma só: o Brasil mudou, e mudou muito. Para melhor. E, apesar
de ainda haver quem queira reduzir a 'paternidade da criança' a este partido ou
àquele Presidente, a questão é que todos somos responsáveis pela transformação
havida no País nos últimos dezoito anos: partidos políticos, instituições,
empresas, trabalhadores, empreendedores... enfim, o povo brasileiro.
Não posso negar que, depois disso, reacendeu-se em mim um sentimento de
brasilidade que, confesso, andava meio esquecido. E me ocorreu também que, para
que essa transformação seja permanente e continue a levar o País adiante, é
necessário que eu reveja meu comportamento. Afinal, às vezes meu país está com
a bola na frente do gol para ganhar uma partida importantíssima, e eu, que sou
um dos jogadores, insisto em querer parar o jogo para reclamar do técnico. É
chegada a hora de parar de reclamar e a ajudar a ganhar o jogo. Ou então mudar
de time.
Benilson Toniolo