MONTEIRO LOBATO E A EDUCAÇÃO
ENTREGA DO PRÊMIO MONTEIRO LOBATO
DE REDAÇÃO
ACADEMIA DE LETRAS DE CAMPOS DO
JORDÃO – 18/08/2012
Quando nos reunimos, ainda na gestão do dr Maynard Góes,
para definir as ações de nossa Academia para o ano de 2012, e pensarmos o que
seria feito junto aos estudantes jordanenses, nos ocorreu o fato de que neste
ano seria comemorado os 130 anos de nascimento de um dos mais representativos
nomes da vida brasileira -não só do Vale do Paraíba e não só da Literatura, mas
um homem de absoluta relevância no que diz respeito ao mundo das Artes, da
política, do empreendedorismo, do Direito e de tantos outros segmentos da
sociedade deste País. Um homem cuja trajetória acaba por se enraizar na própria
História do Brasil -pois não é possível falar do Brasil, da História do Brasil,
sem falar de Monteiro Lobato. Então, depois da realização do Prêmio Iracema
Abrantes de Poesia, que foi um grande sucesso, no ano passado, decidimos por
elevar um pouquinho o grau de exigência junto aos nossos estudantes e lançamos
o Prêmio Monteiro Lobato de Redação, ocasião em que homenageamos o grande
taubateano que tão profundas relações manteve durante sua vida com Campos do
Jordão, no ano de comemoração dos seus centro e trinta anos de nascimento, e
damos continuidade a um dos principais compromissos para com nossa Cidade, que
é a de estimular a pesquisa, a
criação, desenvolver o gosto pelo
estudo, o reconhecimento dos grandes nomes da cena brasileira, entender,
através do estudo de sua vida, quais foram os caminhos que nos trouxeram até
este momento. Concluo que fomos bem sucedidos, apesar da diferença brutal de
participantes entre o ano passado, quando 165 alunos participaram, e este ano,
quando apenas 44 acabaram tomando parte.
Mas o aparente baixo índice de adesões ao Concurso tem
uma explicação. Quando, findo o prazo de inscrições, entramos em contato com as
escolas para saber da quantidade de trabalhos concorrentes, ouvimos da maioria
dos professores e diretores as desculpas mais absurdas, mais impensáveis, mais
estarrecedoras. "Não me identifiquei
com a proposta". "Estamos
envolvidos em outro projeto". Ou a pior de todas elas: "Os alunos não tiveram interesse, não
quiseram participar". Eu, que
mantenho uma coluna em um jornal da cidade que trata exatamente de Educação,
ainda que não seja professor nem pedagogo, adicionei aos meus conhecimentos um
novo conceito: grande parte da responsabilidade pela penúria em que se encontra
nossa Educação é, sim, dos professores. Do Estado, claro. Dos pais, sem dúvida.
Das propostas pedagógicas, que não conseguem acompanhar o desenvolvimento dos recursos
que a sociedade atual disponibiliza aos nosso jovens. Mas, é triste concluir
que grande parte da responsabilidade é dos professores. Porque um professor que
com a maior desfaçatez responde para uma Academia de Letras que seus alunos não
tomaram parte de um concurso sobre a vida e a obra de Monteiro Lobato porque
ele, professor, "não se identificou
com a proposta", ou "porque
os alunos não quiseram", é sinal de que a Educação brasileira se
encontra no fundo do poço.
Mas como diz o poeta Joca Renors Terron, "do fundo do poço também se vê a lua".
E aqui estamos nós, reunidos neste novo espaço, para receber os alunos de cinco
escolas, três públicas e duas particulares, para proceder a premiação do nosso
concurso. Cinco escolas que serão homenageadas juntamente com seus alunos, que
acreditaram na nossa proposta, estimularam e auxiliaram seus alunos para que
fossem em busca de informações sobre nosso Lobato e tomassem parte no concurso.
De forma que antes de falar um pouco sobre a vida e a obra de Lobato, eu queria
pedir que todos aplaudíssemos as escolas Laurinda da Matta, Dora Lygia,
Tancredo Neves, Irene Lopes Sodré e Univap, aqui representadas, por terem
acreditado e prestigiado nossa iniciativa.
Para abrir a cerimônia de premiação do nosso certame,
achei por bem escolher o tema "Educação" por três motivos, além do
fascínio que este tema provoca em mim e pelo fato de que a grande maioria de
nossos Acadêmicos ser oriunda do Magistério. O primeiro é que o nome de
Monteiro Lobato esteve em grande evidência há cerca de dois anos atrás, quando
o Ministério da Educação retirou das estantes o livro "Caçadas de
Pedrinho", por entenderem os burocratas que o livro continha uma
inequívoca declaração de preconceito racial em determinados momentos da narrativa,
notadamente àquele em que o protagonista Pedrinho diz que a Tia Nastácia "sobe em árvores como uma macaca". Esquecem os burocratas do Governo de duas
questões: primeiro, que o personagem principal é uma criança que para se
comunicar faz uso de um vocabulário próprio de sua idade, com toda a pureza e
malícia que a caracterizam; segundo, que se formos nos dirigir com olhos
persecutórios à obra dos grandes nomes da nossa literatura, seguramente
encontraremos demonstrações dos mais diversos tipos de preconceito em suas
obras. Seria como acusar Graciliano Ramos de maus tratos aos animais pelo fato
de a cachorra Baleia morrer durante o desenrolar de Vidas Secas.
O segundo motivo é que a maioria de nosso público
nesta tarde é formado por professores e estudantes, envolvidos diretamente com
a Educação e que, indubitavelmente, poderão agregar um número muito maior de
informações e observações que hão de enriquecer o tema.
E o terceiro é tentar não apenas saber quem foi
Monteiro Lobato, mas principalmente tentar identificar através de sua vida e
obra qual seu legado, qual sua contribuição para o momento que a Educação vive
hoje no Brasil, uma vez que todos representamos, hoje, o futuro a que tanto se
referiu o escritor.
José Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté em 18 de
abril de 1892. Anos mais tarde, para poder usar uma bengala que pertencera a
seu pai José Bento e onde constava a inscrição das iniciais JBML, muda seu nome
para o mesmo do pai, passando a chamar então José Bento Monteiro Lobato.
Ainda criança,
variava seu tempo entre as brincadeiras com as irmãs Ester e Judite e a leitura
dos livros que compunham a grande biblioteca do avô, o Visconde de Tremembé.
É alfabetizado por sua mãe, dona Olímpia Augusta, e
aos sete anos entra para a Escola. Com quatorze anos, vai estudar em S. Paulo.
Perde o pai aos quinze e a mãe aos dezesseis anos. Aos dezoito, por imposição
do avô Visconde, entra na Faculdade de Direito, mas o que ele queria mesmo era
estudar Belas-Artes. Durante toda a sua vida de estudante, manteve ativa participação
na criação e colaboração com jornais e demais publicações que surgiam, primeiro
no colégio, e depois na Faculdade. Forma-se em Direito em 1907 e é nomeado
promotor na cidade de Areias. Em 1908, portanto com 26 anos, casa-se com Maria
Pureza da Natividade, a dona Purezinha, com quem teve os filhos Edgar,
Guilherme, Marta e Rute.
Guilherme e Edgar, com tuberculose, chegam a viver em
Campos do Jordão, mas não sobrevivem. Guilherme faleceria em 1938, em S. Paulo,
e Edgar em Tremembé, em 1943.
Mas antes disso, em 1911, a morte do seu avô faz com
que herde a fazenda Buquira, deixando de exercer o Direito para se dedicar à
atividade de fazendeiro. Contumaz colaborador dos jornais A Tribuna de Santos e
O Estado de São Paulo, é nesta condição que passa a atacar ferozmente a figura
do caipira paulista através de um artigo publicado, em que nominava o caipira
paulista como Jeca-Tatu, atacando ferozmente a preguiça e a falta de esforço do
caboclo, inconformado com o que vê em sua fazenda e nos arredores, e taxa o
caipira como uma praga que impede o desenvolvimento do Brasil. Este artigo gera
grande polêmica, lançando pela primeira vez o nome de Lobato aos mais altos
níveis de discussão, com argumentos contrários e outros a favor. A imagem do
Jeca resiste até hoje no imaginário e nos ditames populares.
Diz Lobato no livro Urupês, coletânea de contos
publicada pela primeira vez em 1918: "No meio da natureza brasílica,
tão rica de formas e cores, onde os ipês floridos derramam feitiços no ambiente
e a infolhescência dos cedros, às primeiras chuvas de setembro, abre a dança
dos tangarás; onde há abelhas de sol, esmeraldas vivas, cigarras, sabiás, luz,
cor, perfume, vida dionisiaca em escachôo permanente, o caboclo é o sombrio
urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas. Só ele não
fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive...".
Neste momento, já distante da Fazenda e radicado em S. Paulo, como veremos
adiante, Monteiro pede perdão ao Jeca, pois na época em que escreveu o artigo
desconhecia que as características ruins do caboclo derivavam, na verdade, de
graves doenças que o precário sistema de saúde brasileiro não conseguiam
erradicar, e que dizimavam e inutilizavam a força dos pobres sertanejos.
Diante das dificuldades e da intensidade das geadas
características da região, em 1917 Lobato vende a fazenda que herdara do avô e
transfere-se para S. Paulo, onde compra
a Editora "Revista do Brasil" e muda seu nome para
"Monteiro Lobato e Cia", onde passa a publicar seus próprios livros,
estreando com o já citado Urupês. Este é um momento histórico na cena
brasileira, pois até ali todos os livros produzidos no Brasil eram impressos em
Portugal. A Editora se transformaria depois na Companhia Editora Nacional. A
partir de 1921 passa a se dedicar à literatura infantil, à qual se dedicará de
forma mais enfática a partir de 1943.
Em 1930, em um momento conturbado da cena política
brasileira, é escolhido pelo presidente de S. Paulo Júlio Prestes adido
cultural em Nova Iorque, cargo do qual é destituído no ano seguinte. Ao voltar
dos Estados Unidos, entusiasmado com o que viu e certo das potencialidades de
seu país, passa a defender de forma contundente a exploração de ferro e
petróleo em solo brasileiro. Esta luta o deixará pobre, doente e desgostoso,
pois será perseguido, preso e fortemente criticado por suas declarações em
contrário, quando defendia que somente a descoberta e exploração de riquezas no
solo brasileiro fariam com que o povo tivesse um padrão de vida à altura de
suas necessidades.
Já mortos os filhos Guilherme e Edgar, funda em 1943 a
Editora Brasiliense, onde publica "A Menina do Narizinho Arrebitado",
iniciando aí a grande saga do Sítio do Pica-Pau Amarelo, obra que entraria para
o rol de maior obra infantil da literatura brasileira, e uma das maiores do
mundo. Com seus célebres personagens Pedrinho e Narizinho (que respeitam os
mais velhos, são curiosos, inventivos, confiantes e estudioso), Dona Benta (que
alguns refutam como o alter-ego do autor, apesar de a maioria entender
tratar-se este de Emília), Tia Nastácia e Tio Barnabé (que representam a
pureza, a sabedoria e a força de trabalho dos afro-brasileiros recém-saídos da
escravidão), Visconde de Sabugosa (um leitor contumaz e uma ácida crítica aos
que creem em tudo o que leem) e a inesquecível boneca Emília, que diz tudo o
que pensa e que se vê no direito de modificar no mundo aquilo que, segundo ela,
está errado ou fora do lugar.
Poderia dizer muito mais a respeito deste grande
homem. Poderia dizer que rejeitou o convite da Academia Brasileira de Letras,
dizendo que só aceitaria o convite quando pusessem fora de lá, a pontapés, o
Presidente Getúlio Vargas, conhecido então como o "Pai dos Trabalhadores
do Brasil". Poderia dizer que suas obras foram traduzidas para inúmeros
idiomas. Poderia dizer que viveu em uma casa na rua Macedo Soares, aqui mesmo
em Campos do Jordão, durante a enfermidade do filho Guilherme, e que no lugar
deste imóvel hoje existem uma casa de móveis e uma loja de chocolates, e não há
no local nenhuma referência ao seu ilustre morador. Que seu enterro no
Cemitério da Consolação, em julho de 1948,
reuniu uma multidão poucas vezes vista em eventos desta natureza,
sobretudo se levarmos em conta tratar-se do féretro de um escritor vítima de
derrame cerebral. Que acolheu e apadrinhou o talento singular de um sergipano
de nome Paulo Dantas, então tuberculoso, membro desta Academia de Letras, que
por sua vez descobriu a poesia de Mauro Valle, que é considerado hoje um dos
grandes poetas do cenário literário brasileiro, e autor -ele, Dantas- de uma pérola literária inigualável, o
romance " Purgatório", que se iguala em qualidade aos grandes
romances regionalistas do Nordeste, digno de figurar ao lado de um José Lins do
Rego, de um José Américo de Almeida, de uma Raquel de Queiroz, de um Graciliano
Ramos.
De forma muito sucinta, pois que a vida e a obra de
Lobato, como já disse, não podem ser abordadas integralmente em um tempo tão
exíguo como este, esta foi a trajetória deste que foi, mais que um escritor, um
raro espécime da raça humana, um brasileiro que deveria encher de orgulho e
admiração todos aqueles que tiveram o privilégio de nascer neste chão -digo deveria, porque infelizmente fora dos
meios culturais e acadêmicos quase não se ouve falar em seu nome.
Mas minha proposta, ao adentrar a parte final de minha
primeira participação nesta tarde, é falar sobre a importância que representa a
obra de Monteiro Lobato para a Educação. Qual sua importância? Qual a
contribuição? Qual o legado deixado por ele para as gerações futuras?
Edgard Cavalheiro, escritor e amigo, que entre coisas
foi o criador do Prêmio Jabuti, relata em seu livro "Monteiro Lobato –
Vida e Obra", de 1955, uma passagem que sintetiza sobremaneira a
importância que Lobato dava às crianças: 'No fundo de uma cama, convalescendo
de grave enfermidade, está um menino. Cansado, desanimado, infeliz. Batem à
porta. É o carteiro. Trazem-lhe um envelope. Abre-o inquieto. Os olhos
arregalam-se de espanto. Um sorriso aflora em seus lábios tristes. 'Mamãe,
mamãe, veja, é de Monteiro Lobato, ele respondeu à minha carta...' E a mãe,
comovida, envia uma outra carta ao escritor: 'Com os agradecimentos à carta
que V. Exa. se dignou enviar ao meu filho Lindberg, dou-lhe a notícia de que a missiva
veio concorrer enormemente para a sua cura. Diz ele que foi um dos dias mais
felizes de sua vida. Muito obrigado'.
Um homem que dizia que gostaria de escrever livros
"onde as crianças pudessem morar
dentro deles", que perde dois filhos já moços, mas ainda na flor da
idade, e que já quase sem esperanças nos homens passa a se dirigir às crianças
através de seus livros e de cartas, por enxergar nelas "a humanidade do
amanhã. Educá-las passa a ser, nas próximas décadas, assuntos fundamental e de
intensa preocupação entre os homens", segundo suas próprias palavras.
Lobato via a construção do conhecimento como um
processo de elaboração pessoal, ou seja, quando o aluno aprende um conteúdo, um conceito, resolve problemas,
adquire normas de comportamento e valores e é capaz de estabelecer relações
entre o que aprende e o que conhece. Através do professor, a criança é capaz de
construir significados através de sua experiência, dos conteúdos de
aprendizagem e do professor. Segundo ele, havia duas correntes na educação que
acabavam por "travar" o
sistema educacional. A primeira que considerava a criança como um homenzinho em
miniatura e a tratava como tal, o que acabou por gerar uma série de livros
didáticos de cunho moral que acabaram rejeitados pelos próprios alunos. A
segunda, da qual Lobato era partidário, procurava tratar a criança como um ser
humano com pouca ou quase nenhuma característica do adulto que viria a ser, para quem seria necessária a aplicação
de uma carga de conhecimento especialmente pensado para suas necessidades
futuras.
Lobato revelou-se ainda um grande admirador do
educador, jurista e escritor baiano Anísio Teixeira, um dos principais
difusores do movimento Escola Nova, que defendia entre outras coisas a
gratuidade do ensino público laico e a necessidade de implantação de
experiências críticas em sala de aula. Ambos trocaram cartas e Lobato chegou a
pedir a Anísio opiniões sobre o livro Emília no País da Gramática, que lançou
em . Anísio entende esta obra como a abertura de uma nova metodologia
genuinamente brasileira, abrindo as porteiras do conhecimento de uma forma
lúdica, dialógica e encantadora.
A obra de Lobato passa a fazer parte do conteúdo
didático brasileiro, com tiragens iniciais de 20.000 exemplares, e a troca de
correspondência entre ele e as crianças se acentua. O escritor chega a
aproveitar as sugestões e críticas de seus leitores para dar andamento a novos
projetos e publicações. Monteiro Lobato passa a ser o porta-voz das crianças
brasileiras. Exemplo de um artigo publicado em jornal da época: "Que
vergonha! Uma escola da Prefeitura do Distrito Federal onde falta gabinete
dentário. Vergonha das vergonhas. É uma Prefeitura amiga da Cárie! Querem vocês
que eu contribua com livros. Pois não. Vou mandar uma caixa de fósforos para vocês
porem fogo nessa escola da Prefeitura. Venham todos brincar no Sítio do Picapau
Amarelo."
No livro "Emília no País da Gramática",
Lobato tenta fazer com que as crianças aprendam a gramática da Língua
Portuguesa através de histórias vividas pelos personagens do Sítio. Lobato
desejava que as crianças entendessem de forma lúdica e prática os fenômenos da
linguagem. Apesar da boa aceitação da obra, alguns educadores, como a poetisa
Cecília Meireles, teceram críticas. Cecília escreveu em sua coluna no jornal
Diário de Notícias, em 1943: "Os
livros de Lobato são muito engraçados, divertidos, mas seus personagens são
tudo o que há de malcriado e detestável no território da infância. Seus livros
estão em desacordo com o moderno espírito da educação". Vale lembrar
que Cecília fazia parte do grupo de Anísio Teixeira, e que defendia abertamente que "os interesses da criança devem ser a fonte
de inspiração das atividades escolares".
O que fez Lobato diante da crítica da consagrada
poetisa e educadora? Desenvolveu um diálogo entre emília e Dona Benta:
-
Emília, as professoras e os pedagogos vivem condenando esse seu modo de falar.
Já por vezes tenho pedido a você que seja mais educada na linguagem.
-
Dona Benta, a senhora me perdoe, mas quem nasce torto, tarde ou nunca se
endireita. Nasci torta, sou uma besteira da natureza -culpa dessa negra beiçuda
que me fez. E, portanto, ou falo como quero ou calo-me. Isso de falar como as
professoras mandam, que fique para Narizinho.
O papel de Emília é o de "libertar" a
criança. Sua presença está centrada no diálogo, em que há o direito à voz, à
livre expressão, à criação e à participação.
Fico imaginando o que se passaria na cabeça de
Monteiro Lobato ao ver o Brasil de hoje, ao ver o pré-sal, as descobertas das
jazidas de gás, o Brasil emprestando dinheiro aos países europeus para
salvá-los da bancarrota, um presidente negro nos Estados Unidos, a abertura dos
portos, o Brasil prestes a ser reconhecido pelo mundo como potência graças
exclusivamente ao trabalho árduo e ininterrupto de sua gente.
Só não consigo imaginar o que Lobato diria, ou faria,
ao ver o que sucedeu à Educação do País. O que diria Lobato de nossas crianças,
e dos professores que lutam, com baixos salários, sofrendo agressões, ameaças,
das escolas onde imperam o tráfico, o crime e o abandono? O que pensaria de
Lobato ao ouvir de um educador dizer que seus alunos não participaram de um
concurso de Redação porque ele, o professor, "não se envolveu com a
proposta"? Nunca o nosso País, que Lobato tanto amou, precisou tanto de
coragem, de disciplina, de criatividade, de empreendedorismo, de honradez, de
civismo, de amor, de talento. Nunca, como hoje, o Brasil precisou tanto de um
homem como Monteiro Lobato.
Benilson Toniolo