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Benilson Toniolo
O Maestro João Carlos Martins veio a
Campos com a Filarmônica do SESI para uma única apresentação esta tarde, em uma
das quadras do Tênis Clube. Um sábado de julho atípico, o de hoje, com chuva
intermitente e muito frio, mas que não impediu a mim e Simone, da mesma forma
como a algumas poucas centenas de pessoas, de prestigiarmos o prestigiado
Maestro.
Ficamos na área destinada aos convidados
oficiais –as chamadas autoridades. Vinho, coisinhas para beliscar e um barulho
danado, muito característico de pessoas que não têm o hábito de freqüentar
concertos. Irrita um pouco, mas a gente olha a taça até a metade do tinto
francês e a mesa de tira-gostos e logo trata de esquecer a implicância. Uma
bicada no vinho e adeus, irritação. Vamos à música.
Um concerto de música clássica dentro de
um clube de tênis não deixa de ser algo curioso. O palco não é o de um teatro
propriamente dito, o que acaba por comprometer sobremaneira a acústica. Defronte
a ele, e sobre o piso da quadra de jogo, foram colocadas cadeiras de plástico
que as pessoas vão arrastando à medida que se sentam e à medida em que vão
perdendo a paciência com o espetáculo, que sempre parece demorar mais do que a
gente imagina suportar. Na área destinada a nós, os ilustres convidados, não.
Pufes e sofás acolchoados e imaculadamente brancos foram espalhados pelo
ambiente impecavelmente decorado, enquanto mastigávamos damascos recheados e
doces diversos cujos nomes não memorizei. Ao fundo, a orquestra tocava. E nenhum
de nós parecia preocupado com os eventuais danos ao piso da quadra.
Nas ruas ao lado, buzinas tocando,
carros com o som em volume altíssimo, o sino dos “trenzinhos da alegria” a chamar turistas
para o passeio, funcionários anunciando cardápios de restaurantes, risadas e
conversas em altíssimo volume estalavam a todo instante e passavam a fazer
parte involuntária do programa. A quarta de Beethoven, que abriu o concerto,
teve tudo isso: sinos, buzinas, risadas e promessas de carne argentina
legítima. O Maestro, simpático e eloqüente, parece não ter acusado o golpe. Nem
quem estava na área vip, apesar dos “sshhhhhhhhhhhhhh” ouvidos vez por outra.
Entre mais um gole de vinho francês e um foie-gras, claro.
Por mais nobre que tenha sido a
iniciativa, um clube de tênis em plena temporada de inverno não é o lugar
adequado para a realização de um concerto. Não com estas platéias. Nem a que
estava dentro, tampouco a que estava fora. E muito menos comigo, mais preocupado
com a comida do que com a música.
Amanhã vamos ao Auditório, ver
Neschling, o das frutas impecavelmente descascadas. Havemos de ficar em meio à
plebe. E teremos que almoçar cedo.
Diante da cena do latrocínio de um
comerciante, atingido mortalmente com um tiro nas costas ao reagir ao sexto
assalto ao seu estabelecimento somente neste ano, o senhor Secretário de Estado
da Segurança Pública da Bahia vaticinou: “a responsabilidade de garantir sua
segurança é do próprio cidadão, tanto em casa quanto em sua empresa”. Já a
Polícia Militar de São Paulo tentou proibir os torcedores do Palmeiras de se
dirigirem ao estádio do Corinthians, para
o jogo de amanhã, usando qualquer peça de roupa na cor verde (camisa do time,
então, nem pensar). Também disse que os palestrinos não devem fazer uso do
metrô, e sim descer dos ônibus e caminhar cerca de quatro quilômetros até o
estádio. Tudo isso porque a Polícia não tem como garantir a segurança deles. A
principal torcida organizada do time já declarou que não acatará nenhuma das
determinações.
Duas demonstrações explicitas de
falência absoluta do Estado, quando este declaradamente assume sua incapacidade
e incompetência.
Enquanto isso, o jornal noticia que o
Estado de São Paulo sofre a 13. alta seguida no número de roubos, com um
aumento da ordem de 14,7% na comparação com o mesmo período de 2013. Já o
Governo informa que os números mostram que houve, na realidade, desaceleração
das ocorrências, destacando que é a primeira vez que se registra um índice
inferior a 15% no ano. Na dúvida, é melhor trancar bem as portas, as janelas e
acionar o alarme.
Agora, quero ver quem é que vai explicar
isso tudo para a torcida do Palmeiras...
Alexandre Vidal Porto, que é o que se
salva na Folha de hoje, contando em seu artigo as considerações que fazia
enquanto levava a passear seus cães: ‘A
Crimeia é anexada pela Rússia. Insurgentes declaram um extenso califado
fundamentalista entre o Iraque e a Síria. Garotas são roubadas na Nigéria.
Países se desfazem. Um avião comercial é abatido sabe-se lá por quem. Corpos de
passageiros empilham-se em vagões. A faixa de Gaza é invadida por Israel.
Corpos de crianças misturam-se aos escombros. A ONU informa que, pela primeira
vez desde a Segunda Guerra, o número de refugiados no mundo ultrapassou 50
milhões. Na academia diplomática, nos ensinam que a melhor maneira de prevenir
briga com vizinhos é o diálogo e a negociação, e eu penso em como seria melhor
se os lideres com a cara de mau parassem de fazer coisas inacreditáveis e
passassem a conversar mais, para se entender melhor’.
Mal-informado e econômico ao elencar o
rol das tragédias contemporâneas, o nosso diplomata. Não deve ainda estar
sabendo do escândalo da Cruz Vermelha brasileira, flagrada desviando recursos
que seriam inicialmente destinados a desabrigados no Rio de Janeiro, no Japão e
na Somália –isso só para ficarmos na tragédia do dia. Sim, atualmente
noticia-se, no mínimo, uma tragédia –ou escândalo, ou genocídio- por dia.
Aécio Neves, que se auto-denomina o
Redentor que irá expulsar o PT do poder, pisou feio na bola, ao não conseguir
explicar por que mandou construir, com recursos públicos, um aeroporto no
município onde a família dele possui uma fazenda, quando era governador do
Estado de Minas Gerais. Vai muito mal, o candidato da oposição. O que é
lamentável para os brasileiros, que devem aprender que é através destas ações,
aparentemente sem importância, que se pode identificar o caráter daqueles que
pretendem nos governar.
Marina Silva ordenou que sua imagem fosse retirada dos
cartazes em que aparece ao lado de seu candidato de chapa, o presidenciável
Eduardo Campos, e do governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB de Aécio.
Está muito claro o desconforto da senadora com a forma como a cúpula do PSB tem
tratado as adesões, alianças e coligações pelo Brasil afora. Marina, na
verdade, parece querer dissociar sua imagem desta verdadeira orgia em se transformou a
política eleitoral –no que faz muito bem. Será que não rola nem um
arrependimentozinho pela decisão de ter-se aliado a Campos?
É por essas e outras que o candidato
Pastor Everaldo tem crescido nas pesquisas, a ponto de ser figura garantida nos
debates presidenciais e entrevistas dos meios de comunicação com os principais
candidatos.
Continuamos firmes na caminhada que
transformará o Brasil numa República Fundamentalista Evangélica.