domingo, 13 de abril de 2014

EM DEFESA DOS JORNALISTAS

Benilson Toniolo

Já contei esta história aqui, mas vale a pena relembrar. Quando eu era moleque e alguém me perguntava o que eu ia ser quando crescesse - e Deus sabe quantas vezes uma pessoa ouve isso ao longo da vida- eu dizia que queria ser professor, escritor ou jornalista. Invariavelmente alguém caçoava da resposta: ‘coitado, vai morrer de fome’. E como morrer de fome deve ser uma das formas mais terríveis de morrer, aquilo me aterrorizava. Acontece que já naquela época eu gostava muito de livro, de revista em quadrinhos, de desenhar e de escrever. Então, aquilo é o que me dava prazer. Logo, eu queria fazer aquilo pelo resto da vida. Natural.
Se deu certo ou não, é outra história. Escrevi meus livrinhos, tenho uma coluna num jornal local e ainda não desisti de ser professor. Quem sabe um dia?
Nessa toada, sucede que passei a nutrir, ao longo dos tempos, grande respeito pelos jornalistas. Aliás, numa análise bem rápida e superficial, arriscaria dizer aqui da fundamental importância da imprensa na denúncia dos grandes escândalos políticos no País nas últimas décadas. Graças ao trabalho dos jornalistas, políticos, empresários, atravessadores, lobbystas e outros componentes da diversificada fauna pública brasileira foram identificados e julgados. Se bem ou mal, é outra história. Mas foi graças ao trabalho desta classe que a população foi informada e pôde acompanhar o desdobramento de fatos obscuros até então desconhecidos da maior parte das pessoas.
No mundo todo jornalistas são ameaçados, intimidados, agredidos, massacrados e mortos simplesmente por fazerem seu trabalho. Jornalista só não morre mais do que policial. E ambos assumem este risco assim que se sentam para aprender seu ofício. Não dá pra dizer que não sabiam.
Jornalista não torce pra time nenhum e não milita em nenhum partido político. Deve ser neutro, imparcial e observar a tudo com olhos críticos e lente própria.
O fato de um jornalista entrevistar determinado político não significa que ele é a favor do que o entrevistado está dizendo.
O fato de um jornalista sorrir diante de um gol bonito não significa que ele torça para aquele time.
O fato de um jornalista ser eventualmente fotografado, em meio a um mar de outros profissionais de imprensa, durante a entrevista de um candidato à Presidência da República não quer dizer que ele vai votar, ou é simpático, àquele candidato.
Vejam o caso, por exemplo, do escritor Carlos Drummond de Andrade, que saiu de sua cidade natal, Itabira, para  o Rio de Janeiro, a então capital da República, convidado por seu amigo Gustavo Capanema que assumiria, na capital, o comando do ministério da Educação e nomearia o amigo como seu assessor. Corriam os anos da ditadura de Getúlio Vargas e, anos depois, surgiu a 'tese', torpe e injusta, de que Drummond havia servido à ditadura. Ora, o cargo ocupado pelo mineiro correspondia a de média chefia, e é bem possível que tenha se encontrado com o ditador gaúcho algumas poucas vezes e, assim mesmo, em eventos públicos. Ou seja, Carlos Druimmond de Andrade, nosso 'poeta maior', não serviu à ditadura, e sim durante. 
Acusar um jornalista de defender este ou aquele governo, ou candidato, pelo simples fato do profissional ter sido fotografado ao lado dele, e no cumprimento de suas funções, não chega a ser ignorância –porque ignorância tem conserto.
O que não tem conserto é mau-caratismo e má-fé. 

1 comentário:

  1. Prezado Sr. Benilson. Recebi seu vídeo no watzap Ettore Quaranta, 40 anos depois, no grupo de pesquisadores do "Núcleo de Estudos em História Social da Cidade, da PUC-SP, e repassei para o Prof. Dr. Ettore Quaranta, nosso colega na Carreira Docente da universidade e membro do grupo. Ficou muito feliz com sua homenagem. Decidimos procurar seu contato para dizer que o Prof. Ettore Quaranta está vivo, na ativa da PUC-SP e continua morando em Santos/SP. Se receber esta mensagem, seria uma alegria sua participação no grupo de historiadores sobre cidades. Atenciosamente, Profa. Dra. Arlete Assumpçao Monteiro

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