quarta-feira, 3 de outubro de 2012

TRÂNSITO: A NOVA TORTURA JORDANENSE

Publicado no jornal O Povo, de 27 de setembro de 2012

           


A cada quinze dias, dezenas de novos condutores de motocicletas e automóveis são lançados nas ruas da Cidade. Acrescentem-se a isso as facilidades encontradas hoje em dia para aquisição de veículos, a tão celebrada ascensão da chamada “classe média” e a inércia do poder público em procurar alternativas para escoar tantos veículos novos adquiridos por condutores novos e velhos, e pronto: está armado um dos maiores transtornos do dia-a-dia do jordanense -o trânsito.
Recentemente, ao me dirigir ao Capivari para o lançamento do meu último livro, saí da Vila Albertina e, entrando na avenida, por volta de 18:30h, me impressionei com a quantidade de veículos vindos de ambos os lados da pista. Por se tratar de uma sexta-feira, fiquei feliz com o movimento e pensei: “a cidade está cheia”. Afinal, o trânsito se estendia até quase o Jaguaribe. A questão é que, ao chegar no Capivari, fiquei surpreso ao ver que as ruas estavam vazias, idem as lojas e os restaurantes. Pouquíssimos turistas. Logo, não foi difícil concluir que o movimento que vi quando saí de casa não era de visitantes que chegavam. Eram os jordanenses que se locomoviam pela Cidade.
Não estou falando nenhuma novidade. Não deve haver cidadão que viva nesta Cidade que não tenha reparado o absurdo que está se tornando nosso trânsito. Ainda que tenhamos o excelente hábito de respeitar a faixa de pedestres, só isso ainda é muito pouco. Mesmo porque, além de haver inúmeros pedestres que não respeitam a referida faixa há ainda os que, ao invés de atravessar, preferem desfilar sobre ela. E há várias –e excelentes- faixas de pedestres em nossas ruas.
Convencionou-se que não é obrigatório o uso da seta para conversões. Ou seja, o motorista que vem logo atrás fica obrigado a desenvolver sua capacidade de adivinhação. Se houver uma colisão, a culpa não é de quem não acionou a seta, e sim do outro, que não previu que haveria uma conversão à sua frente.
Caminhões pela esquerda, no meio da avenida principal, a qualquer hora do dia. Geralmente, mais de um na mesma via, ao mesmo tempo, em velocidade claramente acima do ideal. Quem estiver na calçada deve se segurar, senão cai, tamanho o impacto dos gigantescos veículos de carga sobre a malha viária.
Ciclistas fora da ciclovia (ocupadas por pedestres) transitando na contra-mão, trocando de faixa sem ao menos sinalizar ou mesmo verificar quem vem atrás.
Filas duplas e triplas, ultrapassagens pela direita, carros lentos na esquerda, transitando com o pisca-alerta acionado, com os faróis apagados, estacionados em locais exclusivos para idosos ou portadores de necessidades especiais, sobre as calçadas, obrigando crianças, idosos e carrinhos de bebê a transitar pelo meio da rua. A buzina, ao invés de ser utilizada para prevenir acidentes, serve para cumprimentar amigos e conhecidos.
Pais de família são arrancados de dentro de seus carros e espancados na frente dos filhos pequenos por “lutadores” destemperados e irritadinhos.
As pessoas se xingam, se ofendem, apontam os dedos, se ameaçam, se desrespeitam e seguem em frente, pouco ligando se este ato estragará ou não o dia dos outros. Porque sim, ainda há gente que se aborrece ao ser ofendido sem razão.
Em um quadro como este, é evidente que aumente o número de acidentes, e consequentemente de mortos e feridos.
Os exemplos, infelizmente, são inúmeros –tudo porque falta rua pra tanto carro.
E o que mais incomoda é saber que o poder público, que é quem deveria resolver os problemas da Cidade, mais uma vez dá uma demonstração de indiferença e pouco-caso.
Outra má notícia: salvo engano, não há entre os candidatos a prefeito nenhum projeto de solução para este problema, assim como parece não haver também para a saúde, para a educação, para a cultura, para a segurança. As “propostas” que ouvi, tanto nos programas de rádio quanto nos próprios debates realizados, não passam de mera retórica e jogo de palavras vazias, o que é típico de períodos eleitorais como este em que estamos vivendo.
Se sou pessimista? Creio que não. Só não consigo enxergar, talvez até por desconhecimento técnico, alguma proposta plausível a curto prazo para que jordanenses e turistas voltem a usufruir de um trânsito mais humano, mais equilibrado e menos caótico.
Acho que não é pedir demais.

Benilson Toniolo



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