segunda-feira, 15 de outubro de 2012

DIGA-ME O QUE ASSISTES...



Em geral, assisto muito pouco à televisão. Não tenho, confesso,  muita paciência. Tenho meus programinhas preferidos, claro, mas também não é sempre que os assisto. Sempre tenho coisa melhor pra fazer, tanto em casa, quanto fora dela. E depois, a gente vai amadurecendo e começa a ficar meio rabugento, meio implicante, meio exigente, e começa a selecionar melhor as coisas. Não dá pra ficar perdendo muito tempo com porcarias –mesmo quando elas existem nos canais da tevê por assinatura.
Novela, por exemplo. Acho que a última que acompanhei com especial interesse foi a “Belíssima”, que, pelo que me lembro, foi ótima. De lá pra cá, não acompanhei mais nenhuma.
Além do mais -quem tem filhos sabe disso- a gente acaba meio que perdendo o controle do controle. Em casa, para assistir alguma coisa na televisão é preciso fazer algo como um tipo de “reserva de domínio”. Olha, gente, hoje às oito horas vai passar um programa no canal tal, e eu vou ver. Pronto, está anunciada a reserva.  Em geral, dá certo. A turminha lá de casa entende, respeita e acata.
Dia desses, combinei ir à casa de um amigo cumprimentá-lo pela formatura do filho mais velho, que concluíra o curso de Engenharia. Ele me convidou para um vinho, comer alguma coisa, jogar conversa fora, essas  coisas. Fomos, eu e Simone.
A casa do sujeito é grande, com quatro quartos, e muito bem localizada. Na verdade, é um apartamento. Um aparelho de TV em cada cômodo, de forma que, se contarmos os quatro quartos já anunciados, a sala, a cozinha e o quartinho da empregada, estamos falando –pasmem- de sete aparelhos de TV numa casa só.  À hora em que chegamos, por volta das oito da noite, havia três ligadas: a da sala, a do quarto da filha (que se prepara para prestar vestibular para Medicina) e a da cozinha (onde não havia ninguém a assistir). Todas ligadas no mesmo canal.
Até que, em meio à conversa que se estendia sobre a trajetória universitária do novo engenheiro, e entre os agradáveis aperitivos que acompanhavam a referida conversa, fomos convidados a assistir ao episódio daquela noite de Avenida Brasil. Convivas educados que somos, claro, vamos lá, nós não assistimos mas acompanhamos vocês, claro. Nossa anfitriã ainda tentou justificar o insólito convite: “a gente não perde um capítulo”.
Novela, hoje em dia, é um negócio que, mesmo que a gente não assista, acaba sabendo de tudo o que acontece, seja porque todo mundo comenta, seja porque está nas páginas principais dos jornais impressos e nos sites da internet. Então, é como o mosquito da dengue: ninguém pode dizer que está imune.
Mas confesso que me surpreendi. Ô novelinha ruim, moço. É violência da primeira à ultima cena. Pra começar, a personagem Carminha apanha mais que tamborim de escola de samba. Além do quê, sofre de alguma patologia psíquica que exigiria um congresso de profissionais só pra se chegar a um diagnóstico sobre o que se passa naquela cabeça tingida. O Marcelo Novaes dizia ao Cauã Reymond que ele não passa de um “babaca que só faz m...”. Aliás, pela minha contabilidade, a palavra “m...” foi proferida duas vezes na mesma cena. Os termos “vaca”, “vadia” e “vagabunda” também surgiram nos “diálogos”, se é que se pode chamar de diálogo as ofensas e ameaças com  que os personagens se digladiam. As relações amorosas também são um caso à parte: todo mundo pega todo mundo, todo mundo trai todo mundo, e as pessoas só pensam em sacanagem. E o fio condutor da história parece ser descobrir qual dos doze suspeitos assassinará o personagem  Max (que na verdade ainda não morreu), interpretado pelo já citado Marcelo Novaes, um sujeito fortão que nunca passou de um canastrão de marca maior. Canastrão, aliás, é o que não falta na novela das oito, que aliás já há algum tempo começa somente às dez. O Tufão, que até onde eu saiba deveria ser o personagem principal, sequer apareceu no episódio.
Podem me chamar do que quiserem, mas a verdade é que achei a novela em questão uma bela porcaria. Realmente, não sei que tipo de fascínio algo tão mal escrito e tão mal interpretado pode causar nas pessoas. Diga-me o que assistes, e eu te direi quem és.
Acabou a novela, conversamos mais um pouco e constatamos que o vinho estava melhor por ter ficado na geladeira enquanto estávamos defronte à tevê. O neo-engenheiro chegou e o recebemos com efusivos abraços de “parabéns”, o menino agradeceu, entrou no quarto e fez o quê? Ligou a televisão.  Mas não assistiu. Foi só para colaborar com o barulho que os outros aparelhos faziam.
Despedimo-nos e ficamos de nos encontrar novamente, para conversar mais um pouco. De preferência, num domingo, que é dia que não passa novela.
Na volta, conversando com Simone, concluímos que quando pesquisadores quiserem estudar o comportamento da nossa sociedade, nem precisarão procurar muito: basta recorrer ao que assistimos na televisão.
De qualquer forma, me disseram que a nova novela das seis parece que é melhor que a Avenida Brasil. Nem precisaria muito, para chegar a isso. Vou dar uma conferida, qualquer dia desses.

Benilson Toniolo

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