segunda-feira, 27 de outubro de 2014

MINHA HISTÓRIA COM O PT


Benilson Toniolo

Ouço no rádio o escândalo do dia. No Brasil do PT, é assim: os escândalos se sucedem na escala de um por dia. Desta vez, carteiros a serviços dos Correios foram flagrados distribuindo material de campanha da candidata Dilma Rousseff. Ou seja, funcionários de uma estatal (apesar de existirem varias franquias) a serviço de um partido político. Constrangedor, no mínimo. Os folhetos com a cara sorridente de Dilma não foram selados. Não foram pagos. Ao invés de cumprirem suas jornadas de trabalho entregando correspondências à população, os entregadores uniformizados distribuíam material de campanha da presidente da República candidata à reeleição. Se alguém ainda não sabia o significado da expressão “aparelhamento do Estado”, acabou de descobrir.
Somem-se a este caso os escândalos da Petrobras, as mentiras deslavadas, as calúnias dirigidas aos demais candidatos à Presidência, a incapacidade de gerir a economia do País (chegam a inventar uma crise internacional para justificar a estagnação econômica do Brasil, quando sabemos que até a Bolívia apresenta crescimento mais elevado do que o nosso), um sistema de saúde falido, a inoperância frente ao triunfo do narcotráfico que age livremente em nossas fronteiras e dentro do território brasileiro, a falência das polícias, um sistema educacional arcaico, oneroso e ultrapassado, um sistema de concessão de bolsas que é mais um instrumento de garantia de votos do que qualquer outra coisa, o sucateamento das instituições (que o diga o Itamaraty), a compra de apoio do Legislativo, o cerceamento da imprensa, a difamação de jornalistas, e por aí vai. Posso dizer sem medo de errar que nunca houve um grupo de pessoas no comando do País mais corrupto do que este do PT. E, no entanto, Dilma lidera as pesquisas de intenção de voto para a presidência. Deve inclusive ser reeleita. Só posso concluir: o povo brasileiro e o Partido dos Trabalhadores se merecem. São iguais. Um é reflexo do outro. Porque quem se alia a bandido, a ele se equivale. E quem vota em bandido não é simpatizante. É comparsa. É cúmplice.
Conheço o PT não é de hoje. Mais precisamente, de meados de 1991, quando comecei a me envolver com literatura e com o pessoal da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Santos. Passei mesmo a colaborar com alguns projetos de cultura nos bairros, ciclos de poesia e prosa, reuniões de escritores, teatro, música, dança. Aquilo para mim era um deslumbramento.
Através do trabalho do pessoal que atuava na Secretaria, passei a nutrir grande admiração pela prefeita, Telma de Souza, de quem até hoje sou admirador.
Conheci Beatriz Rota-Rossi, Valdir Alvarenga, Jair dos Santos Freitas e outros batalhadores. Aprendi um bocado com esta turma. Passei a freqüentar a faculdade de Filosofia e Letras da Unisantos. Não o curso, que eu não tinha dinheiro para bancar, mas o ambiente universitário. Frequentava a faculdade vários dias por semana. Tinha ali um monte de namoradinhas. Afora isso, o pessoal do Teatro Municipal, o Núcleo de Convivência Literária, o pessoal da dança ensaiando sobre textos de Maiakovski. Minha alma começou a pulsar e a entender o idioma da Arte.
Meus poemas, apesar de ruins e imaturos –não que os de hoje não o sejam, ruins e imaturos- saíam publicados no Clips, depois no D.O. Urgente. Santos não era como o Guarujá, onde eu morava. Eu não conhecia nenhum artista de Guarujá. Mas de Santos, conhecia muitos. Não todos. Mas muitos.
Minha admiração pelo trabalho desenvolvido pela Prefeitura não tinha fim. Veio a greve dos Estivadores, e vi Telma de Souza, no alto das escadarias da Prefeitura na Praça Mauá, bradar: “vamos parar esta Cidade! Enquanto os trabalhadores do Porto não forem valorizados, vamos até o fim!”. Reparei que não havia nenhuma câmera, nenhum microfone por perto. Ela, a prefeita de Santos, conclamava sua equipe a apoiar os grevistas. Subi num caminhão na General Câmara, íamos parando e fechando o comércio. Paramos no Gonzaga. Me deram o megafone. Fechei dois restaurantes –o dono de um deles, um português, queria me bater alegando que ele não tinha nada a ver com aquela greve- e duas agências bancárias. Só no gogó. Me levaram para a sede do Sindicato, na Rua João Pessoa. Me apresentaram para um monte de gente. Perguntaram onde eu trabalhava. Em lugar nenhum, respondi. Desempregado. As pessoas riram.
Quando Lula ia a Santos para algum compromisso, o pessoal da Secretaria me ligava. Eu ia. Ele não. Trabalhei pela eleição de Capistrano, o secretário da Saúde de Telma. Lembro da musiquinha da campanha até hoje, um sambinha desses que grudam na cabeça da gente. E gruda tanto que até hoje me ocorre. O governo da Telma foi tão bom que conseguiu fazer seu sucessor, um médico preto e nordestino.
Passei a andar com a estrela do PT na camiseta e numa boina branca que eu gostava de usar. Eu votava em Lula. Votei para deputado federal. Para presidente, em 89. Sempre acreditei no seu discurso, na sua vontade de fazer um Brasil mais justo para todos. Acreditei até quando o vi chorar. Lula era nordestino como meu pai. Operário. Trazia a esperança de um futuro diferente. Representava exatamente o oposto do que se conhecia como política.  ossde Souza, de quem atetaria, passei a nutrir grande admiraçia e prosa, reunioes cretaria de Cultura da Pr
Em 1997, no Nordeste –eu gerenciava um hotel lá- soube que Lula estarei na Cidade. Falei com o pessoal de Santos, que me colocou em contato com o PT de lá. Consegui levar Lula para gravar um programa no nosso Centro de Convenções. Tirei uma foto com ele. Chamei-o de Presidente Lula. Fiquei impressionado com seu mau humor e a quantidade de palavrões que ele proferiu nos cerca de trinta minutos em que lá esteve. Ofereci-lhe um apartamento para descansar, comer alguma coisa, tomar um banho. Ele me olhou e não respondeu. Olhou  fixamente para as pernas de minha mulher, que tirava as fotos. Depois, foi embora sem se despedir de ninguém. E falando palavrões. Lula, dizem, fala muito palavrão até hoje.
Lula teve nas mãos a grande chance de promover a revolução institucional e moral que este País precisava em 2005, por ocasião do escândalo do Mensalão. Deflagrada a crise, poderia ser o protagonista das reformas necessárias que finalmente  colocariam o Brasil nos trilhos do desenvolvimento. Ele tinha a seu lado o apoio da opinião pública, da mídia, do povo, do mundo inteiro. Era um país inteiro na expectativa de que o presidente assumisse sua condição de grande estadista. E ele refugou. Alegou desconhecimento. Disse que não sabia, Que não tinha sido informado. Agiu como agiriam todos aqueles a quem atacou durante toda a sua vida. Foi covarde, leviano, mesquinho. Foi pequeno. Foi ridículo. Fugiu para a Europa e escondeu-se nos carpetes felpudos dos hotéis estrelados e dos palácios. Porque o Lula operário e defensor dos pobres  morreu no dia da posse, em 2003. A partir dali, surgiu o político deslumbrado e de rabo-preso.
Lula revelou-se não o pior, mas o mais maquiavélico de nossos presidentes. Inescrupuloso, teceu complicadas alianças com algumas das figuras mais abjetas e reacionárias da República. Ajoelhou-se perante Jader Barbalho, e beijou-lhe as mãos. Abraçou Maluf, pediu conselhos a Sarney, mancomunou-se com Calheiros.
O PT comprou parlamentares, criou ministérios e secretarias para presentear aliados. Comprometeu o patrimônio nacional ao distribuir dinheiro público a Cuba, Venezuela, Paraguai, Bolívia. Fez a alegria dos ditadores africanos perdoando dívidas. Subjugou a soberania italiana ao recusar-se a extradição de Battisti. Ignorou os perseguidos políticos do regime de Fidel.
Lula para mim, como estadista, é um perfeito desastre. Como homem público, um farsante. E como político, um caluniador e difamador como poucas vezes vimos na história deste País. Enganou-nos a todos, nós que vimos seu nascimento político e ascensão. Tornou-se igual, e até pior, aos que combatia. Vendeu-se. Nivelou-se ao que há de pior. Mente. Lula mente o tempo todo.
Dilma, por sua vez, provavelmente será reeleita. Por quê? Porque, apesar de todos os escândalos, governa um País onde não há oposição (neste sentido, a atuação do PSDB é patética), onde a maioria das pessoas não dá a mínima para a política (a educação está falida, lembram-se?) e que ainda sofre com a falta de líderes com idéias inovadoras e preparo técnico adequado –reflexo ainda dos males da ditadura.
A dois dias do pleito presidencial, meu voto é declarado: não voto no PT. Porque o que conheci como PT morreu, não existe mais, e já faz tempo. O PT de hoje representa uma ditadura velada, que faz apologia à ignorância (a educação está falida, lembra?) e persegue seus poucos opositores. E de ditadura nós, os brasileiros, já deveríamos estar fartos.

Quanto à foto que tirei com Lula, não sei onde guardei. Mas desconfio que está perdida entre as páginas d´O Príncipe, de Machiavelli, ou de Macunaíma, o Herói Sem Nenhum Caráter, de Mario de Andrade. O que, podem estar certos, é uma atitude deliberada.

Sem comentários:

Enviar um comentário