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Benilson Toniolo
A goleada de 7 a 1 sofrida
pela seleção brasileira contra a Alemanha, na última Copa do Mundo, parece
mesmo que interferiu –e continua interferindo- de forma traumática na vida da
nação. Parece que, ainda sob o efeito da traulitada, a classe que tem por
função pensar os destinos do País sentiu muito mais que as outras os efeitos da
goleada.
Faltando cerca de dezoito
meses para o início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, alguns nomes
convidados a conduzir as pastas públicas responsáveis pelos Esportes no Brasil
chamam a atenção, digamos assim, pelo ineditismo e pela singularidade de seus
históricos profissionais, absolutamente
estranhos à natureza do trabalho que os esperam.
George Hilton, o Ministro dos
Esportes, chamou atenção de todos ao
assumir em seu discurso de posse não entender absolutamente nada dos assuntos
da pasta. Pudera: trata-se de um pastor da Igreja Universal que, antes de ser
nomeado para o primeiro escalão do governo, só tinha alcançado certa
notoriedade ao ser flagrado pela Polícia Federal de posse de cerca de 600 mil
reais, em dinheiro vivo, divididos em onze malas, sem conseguir explicar de
forma convincente a origem da dinheirama. Foi expulso do PFL e atualmente milita no PRB.
A prática de entregar o
esporte brasileiro nas mãos de alguns dos escolhidos de Deus parece não ser
exclusividade do Governo Federal. Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Fernando
Pimentel, em Minas Gerais, resolveram seguir os passos de nossa elegante chefe
do Executivo e também entregaram as secretarias estaduais dos esportes a pastores
da Igreja Universal, que pelo jeito tem notável capacidade de formar sacerdotes
com singulares aptidões para a administração esportiva.
Melhor que isso só Luiz Pezão,
governador do Rio de Janeiro, que entregou a titularidade da pasta para um dos filhos
do ex-governador Sérgio Cabral –que pelo menos não é pastor, até onde se saiba.
Escolha tão ruim quanto a de
Dilma, entretanto, as páginas e telas da imprensa ainda não registraram em
2015.
Ah, esses malditos alemães...
Massimo Cavenacci é um antropólogo
italiano radicado há vinte e cinco anos no Brasil, onde é professor convidado
de algumas universidades, com destaque para a USP, onde atuou –e atua- num
projeto de mobilidade urbana.
Tomei conhecimento de sua
existência em uma entrevista dada por ele, em português lombardo, no programa
de Mario Sergio Conti na Globonews. Simpático, eloqüente, conhecedor profundo
do Brasil e sua fabulosa complexidade, Massimo ressaltou o que chamou de
‘fantástico crescimento’ do País nos últimos vinte anos, sobretudo após os
governos FHC e Lula, um em continuidade do outro, que trouxeram a estabilidade
e o crescimento econômico e a diminuição significativa da pobreza.
Quase ao final da entrevista,
ele registra duas de suas maiores preocupações com relação ao Brasil. Uma, a
proliferação de doutrinas religiosas, que impedem o livre pensamento e
encontram na indigência acadêmica um terreno fértil para enraizar seu
desenvolvimento. A outra, o desaparecimento da música genuinamente brasileira,
conhecida universalmente por sua genialidade, e que no entanto parece ter
morrido. E encerra com uma pergunta: ‘onde foi parar a grande música
brasileira?’.
Boa pergunta. Aonde é que,
afinal, estamos indo parar todos neste País?
De Elio Gaspari, na Folha,
sobre o discurso de posse de Dilma no Congresso: ‘Quem falou aos brasileiros
como presidente da República foi a representante de uma facção, porta-voz
somente dos “nossos governos” (o dela e o de Lula)’.
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