quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

ROLDÃO NA PONTA DA PRAIA

                                                O poeta Roldão Mendes Rosa



O poeta guarda o mar nos olhos.
Guarda um porto em cada artéria.
Sentado às margens e à rua,
Divisa outro instante que passa
E deixa que os versos  molhem os pés na água.
Escuta os gritos dos pássaros
Sobrevoando a cidade que desperta, ainda,
Os prédios às suas costas.
Cabelos desalinhados,
O poeta exerce as ondas
E os navios que ainda não chegaram.
Com sua roupa de festa,
Suas mãos de datilógrafo em repouso,
O poeta observa paciente
A passagem de outros tempos
Sobre as cônicas montanhas litorâneas.
Sabe o dia, sabe o beco, sabe a hora,
Sabe o poeta a solidão que acompanha
As multidões desencontradas
Nos quadriláteros caminhos
Da Cidade que é seu berço.
O poeta guarda dentro o cheiro da maresia
Que a tarde espalha e crava no coração das avencas,
Da rua e dos sete canais.
Prepara o canto apaixonado do futuro,
As folhas abandonadas dentro das escrivaninhas,
A pressa das mulheres nos açougues e mercados,
O jornal de sábado, a praia enluarada
Refletidos para sempre no poeta e nos seus óculos,
Amanhecido desde menino de memórias,
Por entre as nuvens e os poemas solitários
Que nascem dos nãos e das noites...

Benilson Toniolo
(do livro CANOEIRO, a sair pela Editora Literasas)


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