quarta-feira, 16 de maio de 2012

CARLOS FUENTES (1928 - 2012)


Perda sentida. Li, de sua autoria, A Cadeira da Águia e Diana. Recentemente, assisti na Globonews a alguns trechos de uma entrevista concedida por ele ao canal, em que falava excessivamente de política, e muito pouco de literatura. Dos livros que li, há diversas anotações que transcrevo abaixo, como forma de homenagear este que é um de meus autores favoritos. Como consolo, a certeza de que poetas e escritores, por serem eternos, acabam por vencer a morte. E vai aumentando meu rol de perdas recentes: Fuentes, Saramago, Mercedes, Dalla, Tabbucchi...

                                          EXCERTOS DE CARLOS FUENTES
- O louvado Deus de um dia pode ser o execrado demônio do momento seguinte;
- A importância da America Latina é, justamente, que não possui saúde financeira. Somos importantes porque criamos problemas aos demais integrantes do sistema. A única força da America Latina consiste em postergar;
- Não tomar decisões é pior que cometer erros;
- Se não há política sem bandidos, o certo é que também não há sociedade sem demônios;
- Não há mistério depois da morte. O morto não sabe que estamos vivos. Antes de nascer e depois de morrer, vivemos, no fim das contas, nossos próprios, intocáveis mundos;
- Por mais que você tape os buracos dos seus erros (e, quem sabe, dos seus crimes), para cada buraco coberto serão descobertos outros três. Chamam-se ”conseqüências”;
 - O México é um mendigo sentado sobre uma montanha de ouro;
 - O problema do sexo é que, mesmo sendo um prazer, não transforma as más noticias em boas;
 - O crime inspirado pelo temor de ser morto é mais freqüente que o crime pela vontade de matar;
 - Não nos submetemos à realidade. Nós a criamos;
- Como me chamo Bernal Herrera, como meu pai, prenderam-me e torturaram, pensando que eu era meu próprio pai, até que chegou o chefe da polícia de Juárez e disse a eles: ‘Não sejam estúpidos. O pai dele já morreu e nós mesmos enterramos’;
 - A vantagem de um coração envenenado é que se torna imune ao fogo e à água;
 - Em política não há traição que não se possa fazer. Ou, pelo menos, imaginar;
- Não há pior solidão que a esperança de ser feliz. Deus nos promete um vale de lágrimas na Terra. Mas esse sofrimento é, afinal, passageiro. A vida eterna é a verdadeira felicidade.  Respondemos a Deus rebeldes, insatisfeitos: Não merecemos uma parcela de eternidade em nossa passagem pelo tempo? As artimanhas de Deus são piores que as de um croupier em Las Vegas.  Promete-nos felicidade eterna e pranto na Terra. Nós nos convencemos de que conhecer a vida e vivê-la bem é o supremo desafio a Deus em seu vale de lágrimas. Se ganhamos o desafio, Deus, de qualquer modo, vinga-se de nós: nega-nos a imortalidade ao seu lado, condena-nos à dor eterna. Atrevemo-nos, contra qualquer lógica, a dar lógica à Divindade. Dizemo-nos: não pode ter sido Deus o criador da miséria e do sofrimento, da crueldade e da barbárie humanas. Em todo caso, isto não foi criado por um bom Deus, e sim pelo Deus mau, o Deus aparente, o Deus mascarado, que só podemos vencer esgotando as armas do mal que Ele mesmo criou. Sexo, crime e, sobretudo, a imaginação do mal. Não são estas dádivas, também, de um Deus maligno? Assim nos convencemos de que só assassinando o Deus usurpador chegaremos, limpos de corpo, libertos de mente, a ver o rosto do Deus primeiro, o Bom Deus. Mas o Grand Croupier tem outro trunfo na manga. Esgotados nosso corpo e nossa alma para chegarmos a Ele, Deus nos revela que Ele não é senão o que Não É. Só podemos saber de Deus o que Deus não é. Saber o que Deus é, não o sabem nem os Santos nem os Místicos nem os Padres; não o sabe nem o próprio Deus, que cairia fulminado por sua própria inteligência se o soubesse. Ofuscado, São João da Cruz foi quem mais se aproximou da inteligência de Deus, apenas para nos comunicar esta nova: “Deus é Nada, o Nada  supremo, e para chegar a Ele é preciso viajar para o Nada, que não pode ser tocado ou visto ou compreendido em termos humanos”, e, para abater a esperança, São João não nos deixa senão esta terrível passagem: “Todo o ser das criaturas, comparado com o infinito ser de Deus, nada é... Toda a beleza das criaturas, comparada com a infinita beleza de Deus, é suprema feiúra.” Talvez Pascal, santo e cínico francês, seja o único cuja aposta salve, ao mesmo tempo, nossa consciência e nossa concupiscência: Se se aposta na existência de Deus e Deus não existe, não se perde nada; mas, de Deus existe, ganha-se tudo;
- A literatura é a minha verdadeira amante, e todo o restante, sexo, política, religião se a tivesse, morte quando a tiver, passa pela experiência literária, o filtro de todas as demais experiências da minha vida;
- A razão leva à desesperança;
- A mentira é o preço do progresso. Quanto maiores os avanços tecnológicos, mais compensamos nosso atraso moral ou imaginativo com a arma disponível: a mentira.
Longa vida a Carlos Fuentes.




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